UM OLHAR OUTRO
17 de Setembro de 2023
É
a partir da Palavra de Deus, proclamada pela Igreja, que os cristãos são
convidados a olhar para o mundo que nos desafia. As imagens do Bom Pastor,
Jesus, e das ovelhas que O seguem, bem como a dos ramos unidos à videira,
lembram-nos que, pelo Baptismo, fomos enxertados em Cristo, somos pertença dele
que, no dizer de S. Paulo, vive em nós e nós nele. Pertencemos a Cristo e
pertencemos à Igreja. Neles devemos permanecer sempre: ser Igreja não é entrar
e sair conforme as conveniências de cada momento, construindo cada um uma maneira
própria de ser e de estar na Igreja.
Pelos
Atos dos Apóstolos damo-nos conta de que não foram fáceis os primórdios da
Igreja e que a tarefa missionária dos apóstolos e dos primeiros cristãos se foi
desenvolvendo na confiança da presença actuante de Jesus. Diante das
dificuldades, os recém convertidos juntavam-se aos apóstolos e, em ambiente de
oração, procurando a iluminação do Espírito Santo, resolviam as dificuldades e
traçavam modelos de acção para o futuro. Disso é um bom exemplo o Concílio de Jerusalém,
o primeiro da História da Igreja, que evitou que o cristianismo ficasse refém
do judaísmo, de onde provinham todos os apóstolos. Foi sobretudo Paulo que «libertou»
a Igreja da tentação de se fechar e deixar condicionar por uma cultura.
Convém
olhar para os primórdios da Igreja para dispormos de um olhar criterioso sobre
a história da Igreja até aos nossos dias. Como o Papa Francisco tem recordado,
não bastam análises, estatísticas, planeamentos e resultados obtidos ou a
obter. É preciso sobretudo humildade no agir comunitário e fé em Deus. E a
conversão do coração, bem mais difícil que a descoberta de sempre novas
estratégias, é o ponto de partida para uma sadia vida crente. O que exige de
todos oração permanente.
Vivemos
tempos difíceis, muito difíceis no seio da Igreja. O Papa Francisco, numa
liberdade interior e confiança no Espírito, que todos apreciamos, é alvo
permanente e em crescendo de contestação no interior da Igreja.
Ao
católico de hoje, sincero na sua fé, põe-se a questão: com quem estou eu, com o
papa Francisco, centro da comunhão eclesial, ou com aqueles que, à frente ou atrás,
sonham e pressionam uma Igreja diferente, a corresponder ao ideário de cada um?
Claro que só uma postura é digna: com o Papa, em união e em oração com ele, o
Papa Francisco hoje, como outrora Bento XVI ou João Paulo II.
Um
sínodo na Igreja católica na Alemanha está a gerar grande inquietação, a ponto
de se temer um cisma, de que o Papa tem consciência, à semelhança de outros
momentos especiais ao longo da história, o último dos quais, mais visível, o
dos seguidores de Mons. Lefebvre, conhecidos como integristas, que se
apresentam como legítimos seguidores da verdadeira Tradição da Igreja,
apontando o Concílio Vaticano II como momento desviante da fidelidade à Igreja
fundada por Jesus.
Aparece
agora um sinal preocupante por parte de muitos cristãos, sacerdotes e leigos,
na Alemanha: em reacção a uma Nota da Santa Sé negando a bênção a casais
homossexuais, dispõem-se a dispensar tais bênçãos em clara afronta a tal
determinação.
Diante
desta ameaça surge, pelo mundo fora, movimentação contrária, pedindo ao Santo
Padre que condene e desautorize o Sínodo da Igreja na Alemanha.
Vivemos
tempos muito difíceis, de facto. Como sempre, a atitude correcta é a da unidade
com o Santo Padre e a oração insistente pela unidade na Igreja de Jesus.
Confiantes em Deus, mas atentos aos ventos da história. Nunca foi fácil dar testemunho
da Verdade. Muito menos nos tempos de hoje.
P.
Abílio Cardoso
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