UM OLHAR OUTRO

28 de Novembro de 2021

Não me parece feliz a linguagem, tantas vezes utilizada, da «minha igreja», da «minha confraria», do meu «grupo». A proposta sinodal em curso deve levar-nos inclusive a cuidar da nossa linguagem, também esta a «evangelizar». Sou Igreja, somos Igreja, uns com os outros e todos chamados a acolher esta «pertença» como dádiva, dom do Senhor. Sim, Ele, Jesus, é que é «dono» da Igreja.

Depois, de «crer, amar e rezar» a Igreja de que também sou responsável, hoje quero falar da experiência pessoal do Sínodo. Se, por um lado, verifico e dou graças por esta «hora de graça», que está a acontecer - não faltam propostas, escritos, dinâmicas, um pouco por todo o lado, e os dados estão hoje acessíveis a toda a gente, via internet - por outro dou-me conta das dificuldades crescentes na «execução» do processo sinodal. O que me leva a uma pergunta: que Igreja temos sido nós? Não estará este processo a revelar-nos a «Igreja falhada» que temos sido? Mundanizada? Empenhada apenas em parecer e situar-se na sociedade apenas como um ente a mais, de entre os muitos que já existem, carregando uma aura de espiritualidade, cada vez menos perceptível, e de valores apenas religiosos, mas desligados da pessoa de Jesus, mantido apenas como referencial distante, com uma doutrina invocada apenas para certos momentos de conveniência?

Estas questões são muito antigas, quer em mim (sempre que falo de adesão pessoal a Jesus, como ponto de partida de toda a acção na Igreja estou a tentar sair da «religião» para chegar à «fé»), quer na «doutrina oficial» da Igreja que, sobretudo no Concílio Vaticano II, se deu conta dos desvios em relação ao dinamismo dos primeiros tempos: era bem mais carismática e testemunha da acção do Espírito Santo. Há dificuldades notórias, cada vez mais notórias no processo sinodal. Ele é ousado e actual demais para o tipo de cristãos que somos. Mas esta é a HORA: ou a aproveitamos e «damos a volta» a isto ou continuaremos de braços cruzados, lamentando-nos e buscando culpados. E não é isso que vimos fazendo desde há muitos anos?

Se este Sínodo for apenas um «agitador» com a marca de Francisco, estaremos a perder tempo. Depois de muito «alarido» e «cenários» na comunicação social, dizendo apenas que os cristãos estão vivos e ainda respiram, ficará tudo na mesma: de ilusão em ilusão lá vamos carregando um «fardo» e engrossando a onda dos desiludidos. NÃO. Recuso-me a tal.

Faço o meu Sínodo já. Ele está a acontecer em mim e procuro que também aconteça à minha volta: aos que vêem apenas dificuldades e não arriscam, digo que os compreendo mas não os aceito porque ou acredito que o Espírito Santo actua e tem força para nos pegar ao colo se necessário, ou então de que vale a minha fé?; aos que não conseguem evitar publicitar os seus próprios preconceitos, incapazes da humilde atitude de aceitar visões diferentes, eu apelo a que rezem e se ponham à escuta do Espírito; aos que não abstraem de «olhar para os outros, porventura como os da última hora», eu convido a escutar o Evangelho que nos mostra um Jesus atento a rodas as horas; aos que, sensatamente adivinham imensas dificuldades, eu peço que não acreditem só nas próprias forças e deixem o Espírito trabalhar no seu próprio coração e no dos outros; aos que pensam que «isto só vai com craques e doutores», eu lembro a HISTÓRIA de tantos mártires e a CONFIANÇA dos simples na acção de Deus (a Igreja precisa mais de testemunhas do que de mestres, dizia Paulo VI).

O Sínodo é para nós. O Sínodo é agora. Somos TODOS convocados a «aprender» um novo modo de ser Igreja. Ao menos TU e EU vamos em frente.

P. Abílio Cardoso

Créditos: Foto - Pixabay


Publicado em 2021-11-28

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