
UM OLHAR OUTRO
7 de Agosto de 2022
Temos
um novo Arcebispo em Braga. Esperado e desejado durante muito tempo, foi nos
últimos dois meses e meio que nos preparamos para o receber. E no fim de semana
passado foi a sua tomada de posse, esta no sábado, e a apresentação à
Arquidiocese em celebração solene na Catedral no domingo, actos envolvidos de
várias declarações e entrevistas que nos permitem sintonizar com as linhas de força
do seu ministério episcopal, base da esperança renovada na caminhada da Igreja
diocesana. Aliás a esperança foi por várias vezes referida ao longo da homilia
de domingo. Estive presente na Sé Primaz no passado domingo. Comunguei do
ambiente festivo. Ouvi com atenção a primeira mensagem do novo Pastor aos seus
fiéis. Em voz firme e clara, o nosso Arcebispo deixou um apelo particular para os
padres, com quem quer contar para a «Igreja sinodal e samaritana». Chamou-nos
os “primeiros e indispensáveis colaboradores» para o ajudarmos a ser Pai e
Pastor.
Gostei
particularmente de o ouvir dizer que o presbitério está antes do presbítero: «O
presbitério não é a soma dos presbíteros de uma diocese. Não são os presbíteros
que fazem o presbitério, é o presbitério que faz os presbíteros. Nós nascemos do
mistério de Cristo. Antes de mais a comunhão e depois a missão».
Nestas
poucas palavras vejo eu uma orientação muito concreta para a evangelização («só
se evangeliza com o evangelho») que se impõe face a um mundanismo que invade a Igreja
e que nos afasta da especificidade da nossa missão, valorizando o activismo e
estratégias pastorais em detrimento da conversão pessoal e da consciência de
que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo.
Colocando
a comunhão presbiteral antes da missão, o nosso Arcebispo deixou já uma
«grande» resposta para problemas bem reais no presbitério.
A
pandemia, que agora parece deixar de se impor como condicionante sempre
presente à actividade pastoral, trouxe restrições, fez abandonar hábitos e
tradições e contribuiu em parte para que as igrejas se esvaziassem. Ela põe-nos
agora uma nova questão: o que retomar daquilo que ficou pelo caminho? E como
fazê-lo? Não será esta uma hora de graça para o necessário discernimento, que o
Sínodo nos lembra? É que corremos o risco de perder uma oportunidade única, a
de corrigir hábitos e tradições que, com o tempo, perderam grande parte da sua
razão de ser por consumirem demasiadas energias pastorais, de padres e de
leigos, diante de «resultados» tão diminutos, a pedirem ou renovação profunda
ou mesmo abandono. Teremos coragem para isso?
Numa
entrevista, o nosso Pastor deixou já uma orientação genérica mas bem
elucidativa: «confronto com o evangelho» e «atitude de escuta» vão indicar o
que é para continuar ou para repensar».
Tendo
em conta o alívio da pandemia, a entrada de um novo Arcebispo, que precisa de
tempo não só para conhecer a Arquidiocese como para fundamentar decisões, é de
esperar - é legítimo esperar - de todos, padres e leigos, a compreensão
necessária para que ele não tenha de esgotar a agenda nos primeiros embates com
a realidade de uma Igreja de ritmo acelerado, mas com decisões há meses em suspenso.
Todos
desejamos respostas quanto a procissões, crismas, festas religiosas,
peregrinações, etc. Não será mais ajuizado gastarmos as nossas energias no
«confronto com o evangelho» e na «escuta», dando novo vigor aos grupos sinodais
- esses não precisam das decisões do novo Pastor - promovendo o fervor na vida
cristã no «tempo favorável» que se avizinha?
P. Abílio Cardoso
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