
UM OLHAR OUTRO
7 de Agosto de 2022
Face ao
terror das várias imagens que nos entram todos os dias casa adentro, que
podemos pensar relativamente ao estado da nossa civilização humana neste século
XXI?
Que
progresso é o nosso diante de tanta barbárie, sempre «afastada» do nosso
quotidiano, preferindo ignorá-la apesar de se tornar tão próxima que nos
incomoda? Será que nos damos conta de que o progresso tem sido apenas exterior,
técnico-científico, mas que o coração humano parece estar cada vez mais
bárbaro, sedento de sangue e de vingança?
Será que
a educação, que supostamente os Estados promovem e em que gastam enormes fatias
do orçamento público, desenvolve a pessoa por dentro ou apenas a afogam de ilusões
de felicidade, desde que as barrigas se encham?
Certamente
que longe estava o Papa Francisco, ao escrever a mensagem da paz para o
primeiro dia do ano, de pensar que, dois meses volvidos, a Europa interrompia
décadas de paz, para conhecer uma nova guerra, com requintes de sadismo proporcionados
pela tecnologia bélica. Recordo dessa mensagem a denúncia do Papa de que os
Estados investiam mais em armamento do que em educação. Que termos usaria o
Papa hoje para tal denúncia? Barbárie, Massacre, tragédia...E sabemos que,
diante desta guerra na Ucrânia, os países europeus «acordaram» para a questão
da defesa e segurança, justificando novos e mais avultados investimentos em
armamento, em exército... o que vai desequilibrar ainda mais a balança em
relação ao que se investe na educação. Que justiça ou que promoção humana se
faz quando os direitos humanos ou a Liberdade só se promovem à força? Até que
nível desce a Humanidade neste século XXI, que ainda não aprendeu a resolver os
diferendos pela via do diálogo?!
Onde está
o respeito e a promoção da fraternidade, que nos faz situar entre iguais,
irmãos uns dos outros?! Pois é... será possível falar de irmãos sem
reconhecermos uma paternidade comum? Porque não reconhecer que a nossa Europa se
tem vindo a desviar dos valores que a fundaram, dos ideais dos pais que lhe
deram origem, que eram profundamente crentes? Apesar de nunca podermos aceitar
que uma guerra se possa justificar com a julgada devassidão ou desvio de
valores por parte dos outros, aqueles que são atacados, há certas acusações que
são feitas à Europa que merecem ser reflectidas. Quem não sente a pobreza
espiritual que grassa pela nossa Europa, cuja história se afirmou sempre nas
raízes do cristianismo?
Importa
educar para a paz. Desde tenra idade importa desenvolver o «cordeiro» que há em
nós e, por processos gradativos mas firmes, «enjaular» o lobo que também há em nós.
E educar é muito mais que informar. Será que as nossas escolas, em que as jovens
gerações passam a maior parte do dia e se sobrepõem à influência natural das
famílias, favorecem a formação de cidadãos adultos, autónomos e livres, profundamente
respeitadores das diferenças, amantes da paz e dialogantes com quem pensa de
modo diferente?
É
problema social grave a violência doméstica e até a violência nas escolas. Mais
grave quando se toleram justificações como a da violência no namoro. Não serão
sinais suficientes de alerta para que a escola seja repensada na sua vocação
natural de ensinar e de formar para uma sadia cidadania, para a pacífica
convivência de todos? Não será tempo de repensar o espaço dado a tantas
ideologias que põem tudo em causa, com o objetivo ilusório de «uma nova ordem»,
como se o ser humano fosse «construível» como um objecto a moldar segundo
modelos da última moda?
Porque
será que o Estado tem tanta dificuldade em aceitar outros modelos educativos
que permitiriam a livre escolha dos pais?
P.
Abílio Cardoso
Créditos: Foto - Pixabay
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