
UM OLHAR OUTRO
7 de Agosto de 2022
Uma das
acusações feitas ao Ocidente, na tentativa de justificar o injustificável, é a
do abandono dos valores, que se impuseram ao longo dos séculos e que da Europa
atingiram a generalidade dos povos. O presidente russo parece confortado com o
Patriarca Cirilo de Moscovo, que o olha como o «salvador» de um mundo Ocidente
pervertido. A União Europeia ter-se-ia desviado dos valores que a tornaram
berço de civilizações. Terão eles alguma razão?
Provavelmente
muitos se têm posto tal questão. Claro que a questão é, no mínimo, discutível.
Sabemos como, quando há anos se discutiu uma possível Constituição Europeia, a
menção do Cristianismo como «raiz» desta Europa de nações e de valores gerou
controvérsia e muitos foram os países contra tal menção, entre eles o Portugal
de Durão Barroso. O próprio Papa João Paulo II, que tanto se bateu para tal,
acabaria desgostoso e prevendo desvios de más consequências no futuro dos
europeus.
Passadas
três décadas, eis-nos diante de uma deriva ideológica grave, já denunciada pelo
papa Bento XVI, quando insistia no relativismo ético, que se impunha na
sociedade: abandonada a ética, a verdade perdia a sua objectividade e a vida em
sociedade ficaria à mercê de poderes descontrolados e de ideologias
controversas.
E o que
vemos nós, hoje, agravado neste conflito que, sendo entre dois países vizinhos,
atinge a todos e ninguém lhe fica indiferente? A barbaridade dos atentados à
vida, o «massacre» de populações indefesas e a manipulação da informação está a
ultrapassar, diz-se, o pior de outras guerras. Até quando?, perguntamo-nos. Até
quando a consciência humana continuará a tolerar tanta crueldade? Até quando continuaremos
a assistir à impotência das organizações internacionais que, tentando manter-se
na via do diálogo, nada conseguem de concreto? Para que existem elas, afinal, se
meia dúzia de países conservam o direito de veto, só pela força bélica de que
dispõem? E até que ponto podemos aceitar este «estatuto» prepotente de alguns
sobre todos?
Voltemos
à questões dos valores da Europa. «Quais são os valores do Ocidente nos dias de
hoje» face à Rússia, pergunta-se Davide Lovat (FSSPX, News, 23/03/2022)? E
começa por responder, apresentando uma pequena lista. Diz ele: «Outrora eram os
valores cristãos, mas hoje estes foram todos postos de lado e são até
combatidos com agressividade». Hoje os valores do Ocidente são, segundo o
autor; «a celebração da memória da Shoah, o orgulho gay para afirmar
socialmente a teoria de género, o cientismo, o positivismo jurídico, o
sincretismo religioso, o ecologismo, o imigracionismo para alimentar o
multiculturalismo, a libertinagem (isto é, a pornografia, a prostituição, o
aborto, a eutanásia, as ‘articulações’ e drogas), o estatismo elevado a uma
dimensão continental, a contra-cultura ligada ao progressivismo ideológico...».
Reconhecemos,
certamente, que tais afirmações precisam de ser atenuadas, embora sem lhes
retirar a força de denúncia, que nos deve levar a um pensamento crítico mas atento
à realidade. Por exemplo, esta afirmação do autor: «A ciência foi
ridicularizada nestes dois anos de pandemia, (...) fazendo triunfar o
cientismo, uma abordagem fanática da ciência que dá às contradições mais
absurdas um carácter de dogma religioso, (...) um carácter de absoluto a
opiniões que são contraditas semanas mais tarde. O método científico, ao
contrário, é outra coisa e não permite qualquer dogmatismo ideológico ou
politico».
Amando
todos a Europa a que gostamos de pertencer e apreciando o clima de paz e de
progresso, de que dispomos, não podemos fechar os olhos à força de certas
ideologias, que «negam as raízes éticas, históricas e culturais da civilização europeia».
P. Abílio Cardoso
Créditos: Foto - Pixabay (Florença-Itália)
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