
UM OLHAR OUTRO
7 de Agosto de 2022
Certamente
me perguntarão qual a minha reação diante de um texto, assinado por Paulo Vila,
no Jornal de Barcelos (nº 574). Desta vez até mereci foto. Como sabem os meus
leitores, com o título Um olhar Outro procuro
ir mais longe do que aquilo que se diz num primeiro olhar superficial.
Procurarei
ser claro.
1.
O título leva-me de imediato a constatar que não é
objectivo, mas claramente tendencioso. O que não me causa admiração por ser
atitude repetida e expectável. Poderíamos perguntar: acordo polémico? Um acordo
supõe uma certa harmonia. Financiar a Paróquia? Totalmente falso.
2.
Na verdade, trata-se de um protocolo que exara por
escrito, como convém na administração pública, em que as obrigações de uma
parte, a Paróquia, bem como as da outra parte, o Município, se conhecem
publicamente. Com uma única novidade: por escrito e com o objectivo de
transparência, porque, quanto ao conteúdo, nada foi alterado em relação aos 18
anos últimos.
3.
Mais ainda, o articulista registou - o que foi para mim
feliz novidade - que o texto do protocolo foi objecto de apreciação em reunião
camarária e aprovado por unanimidade. É legítimo então que o cidadão se
pergunte: quem fiscaliza as ações do Executivo municipal? Se governo e oposição
estão de acordo e votam por unanimidade, quando o jornalista contesta não
estará a assumir o lugar da oposição? Com que direito? Sujeitou-se ele ao escrutínio
dos eleitores? E não deve o jornalista colocar-se também ao serviço do bem
comum, intervindo para que sejam aceites as decisões democráticas?
4.
Claro que o jornalista tem o seu lugar no regime
democrático. Fazem falta jornalistas atentos aos gastos dos dinheiros públicos.
Terá ele o direito de se julgar a bitola comportamental na gestão da causa
pública? Que moralidade e reconhecimento público se atribui a si próprio?
5.
Estas questões que me coloco e partilho têm apenas o
objectivo de ajudar a um sentido mais crítico, de modo que os leitores cheguem
mais longe do que os títulos dos jornais. Formar na objectividade e verdade
deve ser missão de todos. A liberdade de cada um diante dos acontecimentos expostos
com verdade poderá gerar opiniões diferentes na interpretação e valorização dos
mesmos. A nossa democracia tem suficiente maturidade para viver bem com as
diferenças.
6.
Certamente que os leitores de Construir me pedirão mais.
Perceberão facilmente que o jornalista tenha intenção de pôr em causa, quer o
Executivo camarário quer a oposição, e a maneira como olham para a Paróquia, manifestando
o seu próprio receio, sabe-se lá por que razão, de que a Paróquia subsista com
as verbas do Município. Como se interrogarão a que propósito se invoca a Lei da
Liberdade Religiosa, só perceptível quando se manifesta a intenção clara de
fazer passar a ideia - mais uma vez – de que as Paróquias ou instituições
religiosas não podem ser subsidiadas com dinheiros públicos.
7.
Uma vez mais se deturpa propositadamente a verdade: a
Paróquia não foi financiada pela Câmara, porque os cristãos da Paróquia de
Barcelos cotizam-se para tal e não mendigam à Câmara dinheiro para os ajudar
nas suas rezas ou atividades religiosas.
Do que se
trata na verdade é de um serviço de que a Câmara não quer prescindir e que não
pode realizar por si própria. Um serviço que tem encargos. Que a Paróquia
suporta a partir do tal protocolo assinado. Desde quando é que o Município fica
impedido de o fazer com qualquer instituição? Com que base legal? Ou então as
faturas dos serviços pedidos e prestados terão de ser endossados ao jornalista?
8.
A verba de 20.000 euros, investida pela Paróquia na organização da Procissão das
Cruzes, a pedido do Município, foi, de facto, este ano aumentada em razão de
incluir encargos com a Banda de Música, o que não era habitual.
9. Por último, lembro os anos em que, em Conselho Pastoral, se discutia se não seriam demais as procissões organizadas na cidade e se pensava alternar a dos Passos com a das Cruzes. Foram talvez as inovações que se foram fazendo nesta, o que implicou sempre novos encargos de ano para ano, que geraram o que só não vê quem não quer ver: a procissão das cruzes ocupa o lugar central no programa das festas. Não é a Paróquia que pede a procissão. Os barcelenses a desejam.
P.
Abílio Cardoso
P.S.
- Escrito este texto para ser publicado na semana passada, deixei-o a aguardar
suspeitando que Luís M. Cunha retomaria o assunto, para se fazer eco mais
demolidor ainda. Os leitores saberão interpretá-lo.
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