UM OLHAR OUTRO

4 de Dezembro de 2022

Olho hoje para a divulgação dos resultados dos Censos de 2021. Eles comprovam, na realeza dos números, o que se adivinhava já: a população portuguesa vem diminuindo e torna-se mais envelhecida.

No que diz respeito à pergunta sobre a religião, de resposta livre, destaca-se que responderam 97%, tendo-se declarado católicos 80.2% (eram 88% no censos de 2011).

Quando passamos a analisar os números, há dados que nos devem fazer pensar. Assim, há uma alteração sociológica da estrutura familiar: diversificam-se os agregados, compostos agora por 2.5 pessoas por lar. Um milhão de pessoas vive em união de facto e um terço tem dois filhos. Há mais famílias reconstruídas, mais divorciados e mais mães sós com filhos. Diminui a população casada (41%), aumentando todos os outros estados de vida (solteiros, divorciados e viúvos). E são mais as mulheres separadas do que os homens. Os estrangeiros são 5,3% da população.

Eis-nos diante do que a Igreja denuncia: o inverno demográfico. Entendamos o grito repetido do Papa: precisamos de crianças.

Não há dúvida de que as alterações havidas nas últimas décadas, no que diz respeito às questões fraturantes, produzem efeitos no futuro. Para alguns, elas são «inevitáveis» e lidas como progresso e até «libertação» da influência da religião. O respeito pela liberdade religiosa limita-se, para muitos, sobretudo marcados por ideologias de esquerda, a não interferir na esfera privada de cada um. O que se dispensa: pudera! Na minha privacidade ou na minha consciência não se permitem invasões. Mas o respeito pela liberdade religiosa implica não precisar, individual e comunitariamente, de esconder o ser religioso que, supostamente, todos os regimes políticos dizem respeitar.

Há neste «progresso» uma camuflagem desastrosa: medem-se os avanços mas omitem-se os prejuizos, alguns deles bem evidentes. Elemento comum é aquele que, na últimas décadas tem sido denunciado pela Igreja: a desagregação das famílias, berço natural do crescimento das gerações e referência primeira para uma cidadania responsável. Ou não são evidentes os «estragos», sobretudo nas crianças, quando se fala em violência doméstica, pedofilia, bullying e agressões nas escolas?

Numa tão desafiadora e até perversa «reconstrução social», de permanente empenho pela chamada ideologia de género, acontecem o que poderíamos chamar de aberrações se tivermos em conta o que se convencionou chamar de valores do Ocidente, enraizados no cristianismo que educa e propõe um modelo de sociedade em que todos os seres humanos, iguais em dignidade, são chamados a uma convivência pacífica no respeito das diferenças. Mão amiga fez-me chegar há dias uma denúncia dos muitos desmandos da «engenharia social» em curso por este Ocidente, outrora dito cristão. Escrevia ele mais uma Carta em que «não pode calar». Citando o jornal ABC (Espanha), (edição digital de 26.XI.22):

«O Governo de Espanha vai aprovar um projecto-lei que definirá 16 (DEZASSEIS!) modelos de famílias», segundo revelou em exclusivo àquele diário espanhol, a Ministra Dos “Direitos Sociais e Agenda 2030”, Ione Belarra. Que modelos esta esclarecida Ministra vai impor a todos os espanhóis e que muito brevemente cá vai chegar». E o articulista cansou-se ao contar até 10. Será que acordamos e nos cansamos também de tanto «faz de conta» para nos lamentarmos depois diante das consequências trágicas que se podem adivinhar?

Eis alguns dos «modelos» da tal Ministra: Transnacional, Intercultural, Biparental, Reconstituída, Retornada, Jovem, Monomarental, LGBT “homoparental” e “homomarental”, Imigrante ... Teremos paciência para compreender as diferenças entre eles? E, entretanto, admiramo-nos de que a Igreja, melhor, nós que a constituímos, seja influenciada por esta cultura de morte e abra brechas no baluarte que sempre foi na defesa de valores perenes!

Publicado em 2022-12-04

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