UM OLHAR OUTRO

23 de Fevereiro de 2020

Quando este texto for publicado estarei eu a terminar uma peregrinação pela Terra Santa, evocando lugares históricos de Israel, sobretudo aqueles que testemunharam ou evocam hoje a presença e a mensagem de Jesus de Nazaré. Amanhã será o regresso, após uma semana de actividade intensa, cansativa mesmo para todos os participantes, que, assim, regressarão à sua vida de todos os dias mais cansados mas felizes. Quem o duvidar só terá de abordar os peregrinos para se certificar da veracidade ou não do que afirmo. Porquê uma vez mais? Serão já duas dezenas, ou a aproximar-se de tal, as vezes que o fiz, sempre em grupo, que eu próprio dinamizo. 

Terei eu algum interesse pessoal em voltar à Terra Santa? Direi que não. Mas reafirmo a motivação: enquanto houver número de peregrinos que o justifique, sinto ser um dever proporcionar a todos os que o desejam uma experiência única, que só pecará por tardia, a julgar não só pelo que eu próprio sinto mas sobretudo pelo que ouço e confirmo naqueles que vão pela primeira vez. Ao avaliarem a experiência, consideram-na única e irrepetível, extraordinariamente enriquecedora. 

De facto, mantendo-se o espírito de peregrino, cada uma das vezes que me encontro na Terra Santa, sinto uma paz diferente, uma dedicação aos outros diferente, maravilhando-me ao contemplar a alegria dos que me rodeiam. É esta a única motivação: que os outros possam ouvir e sentir os locais que falam de um modo único dAquele que dá sentido às nossas vidas, Cristo Jesus. Quando, na preparação dos peregrinos, ansiosos pela chegada do dia e desejosos de que nada falte para que tudo corra pelo melhor, lhes digo que confiem totalmente na cadeia de interventores, desde a Paróquia que os agrupa à agência técnica que, em Portugal ou em Israel, de tudo se ocupa, eu tenho em conta a minha própria experiência: 

-há um antes, caracterizado pela dificuldade em se decidir diante de entraves de vária ordem, num crescendo até ao momento em que se dá um sinal pecuniário, seguido da ansiedade até à hora da partida; 

-há um durante, repetido ao longo da semana, em que o ritmo apressado desde a manhã até à noite nos cansa e nos anima a começar novo dia sem termos digerido ainda, de modo suficiente, tudo o que aconteceu no dia ; 

-há um depois, que se estende por vários anos em que as leituras bíblicas nos transportam aos lugares visitados e passamos a dar um valor diferente aos acontecimentos da vida de Jesus. 

E com o passar do tempo cada peregrino o vai confirmando. 

Parecendo repetir-se, a verdade é que posso também afirmar que cada vez que vou à Terra Santa, encontro sempre algo de novo. Seja porque as descobertas arqueológicas não param, seja porque os guias, que prefiro que sejam sempre diferentes pois que, nas suas diferenças no modo de explicar, me trazem sempre novidades e sempre aprendo um pouco mais, seja porque o estado de espírito pessoal ou na relação com o grupo me permite um «ver» sempre diferente. 

Há ainda a destacar um outro aspecto: o Estado de Israel cuida de modo único da segurança, reforçada para com os peregrinos. Sabemos que as tradições religiosas judaica e muçulmana vivem em conflito permanente mas ambas têm respeito pelo peregrino. Por outro lado, interessa-lhes a presença dos peregrinos, certamente uma das maiores fontes de entrada de divisas. Quando os conflitos se agravam a ponto de serem suspensas as peregrinações, o risco de fome, sobretudo nas comunidades árabes que dão apoio ou estão dependentes dos peregrinos, aumenta. 

Na evolução recente surpreende a alteração dos índices de afluência: outrora os meses de Verão eram os mais preferidos, a entrada nos lugares de peregrinação obrigavam a filas demoradas e, por vezes, nem todos os lugares programados eram visitados. De momento, são esses meses aqueles em que se anda mais à vontade, dado que o calor intenso se torna elemento de máxima consideração. Essa é a razão pela qual, estando as enchentes maiores situadas nos meses de clima mais suave (de Fevereiro a Junho, exceptuado o período de Páscoa), esta peregrinação de Fevereiro se torna mais cara por ser época de maior procura, ao contrário de outros tempos recentes. É também a razão pela qual me obriga a decidir, com um ano de antecedência, uma nova peregrinação para o ano seguinte. A hotelaria, abundante mas sempre em máximos de ocupação, obriga a reservas com um ano de antecedência.

Quando penso na próxima peregrinação, julgo que será a última. Por agora os sinais dizem-me que há gente suficiente para nova partida. Deixarei já indicadas as datas do Carnaval do próximo ano, entre 23 de Fevereiro e 2 de Março. 

O Prior - P. Abílio Cardoso

Publicado em 2020-02-23

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