UM OLHAR OUTRO

24 de Maio de 2020

Artistas na arte de bem contar, de inventar histórias, não faltam no nosso tempo. Estrategas na criação de seguidores ou de fans (fanáticos) aos milhares há-os nas redes sociais. Escritores que aliam à escrita agradável e até com arte a capacidade de marketing para fazerem fortunas também não faltam. E sabemos até quais são os temas de êxito financeiro garantido. Os bestsellers hoje correm o mundo em edições e traduções rápidas, projectados pelos media. Vendem bem. Vendem muito bem. Dirão verdade? Nem sempre são compatíveis verdade e dinheiro.

Não precisamos de gastar argumentos para dizer que todo o tema anti-católico é hoje atraente e economicamente rentável.

Voltemos, então, ao Falso testimonio, do historiador Rodney Stark, que, no capítulo 2, Evangelios eliminados nos fala dos evangelhos apócrifos para deixar bem claro, e fundamentando as afirmações, que a Igreja não «atirou para a fogueira» tais livros. Ao contrário, ao longo da história eles foram desconsiderados pelas falsidades veiculadas e pelos objectivos pretendidos. Postos de lado porque «mirabolantes» ou «inventados», foram, sobretudo no sécuilo XX, ressuscitados e valorizados como pedra de arremesso nas acusações contra o catolicismo.

«Os ataques contra estas escrituras cristãs discrepantes começa com o livro Contra as heresias, de Ireneu, bispo de Lyon, na França, da segunda metade do séc. II». Ele e outros autores consideraram os escritos apócrifos, ou fora do Cânone da Escritura, como «heréticos, estranhos e absurdos, pelo que não se perderia grande coisa se fossem eliminados». Redescobertos no século passado, eles suscitaram grande controvérsia por nos darem uma imagem de Jesus e do cristianismo primitivo muito diferente daquele que conhecemos e foi transmitido ao longo dos séculos. A apetência pelo estranho e sórdido, mesmo que inventado para satisfazer a curiosidade, vende bem na cultura mercantilista e de descarte, do «usa e deita fora». E foram muitos os autores que, a partir deles, tentaram deixar a ideia de que o cristianismo, tal como chegou até nós, foi uma fraude e que, portanto, «chegou ao seu fim».

Tais evangelhos «perdidos» ao longo dos séculos e «ressuscitados» nos finais do séc. XIX terão nascido no mundo gnóstico e, portanto, reservado só para alguns «iluminados». Figuras de Jesus, de Maria ou de Maria Madalena aparecem ou angelicais e mirabolantes ou demasiado «encarnadas» também na sexualidade, vista esta a partir de concepções crescentemente extremistas em voga nos últimos tempos.

Estes escritos dos primeiros séculos, nunca reconhecidos pela Igreja devido à falta de rigor histórico e contrapondo-se à Igreja primitiva dos teólogos, dos mártires e dos santos, foram descartados como portadores de falsidades e ideias absurdas evidentes e não «suprimidos pela Igreja católica».

«Os evangelhos perdidos foram excluídos da Bíblia não porque os padres da Igreja primitiva fossem dogmáticos intransigentes e mal intencionados, mas porque estavam plenamente conscientes de que as escrituras gnósticas não eram cristãs», até porque as seitas gnósticas que os produziram foram poupadas nas perseguições romanas contra os cristãos. «A razão desta imunidade foi a disposição que sempre mostraram para oferecer sacrifícios aos deuses de Roma».

«Infelizmente, apesar do facto evidente de que os evangelhos gnósticos são de origem pagã, eles continuam a desfrutar de uma ampla cobertura nos media populares». E apresenta-se o caso de Karen King, da Universidade de Harvard «que tinha identificado num fragmento diminuto de papiro as seguintes palavras: ‘Jesus disse-lhes: minha esposa’. Estas palavras viriam a demonstrar que Jesus esteve casado!». Claro que os media deram relevo à «descoberta». Só que, «posteriormente veio a descobrir-se que o papiro nem sequer era um antigo texto gnóstico. King tinha sido vítima de uma falsificação moderna. Como o proclamou o título do Wall Street Journal, de 1 de maio de 2014: ´Como foi desmontada a fraude da esposa de Jesus’».

E o nosso autor continua, na sua conclusão do capítulo: «Claro que vão continuar a ser publicados mais manuscritos - alguns até que possam não ser falsificações - e a imprensa continuará a saudar cada um deles como uma descoberta importante e a proclamar que deita por terra algumas doutrinas cristãs tradicionais. É verdade que se muitos dos evangelhos gnósticos fossem aceites como parte do Novo Testamento - por exemplo o Evangelho de Judas - importantes revisões teológicas teriam de ser feitas. O que nunca acontecerá, porque levariam sempre as marcas das suas origens gnósticas, que as desclassificariam, como aconteceu com Ireneu de Lyon (...). O equivalente moderno dos evangelhos gnósticos é certa literatura de ficção com pretensões de realidade, por exemplo O Código Da Vinci, amarga crítica de uma suposta conspiração da Igreja Católica para suprimir a verdade acerca de Jesus» (p. 68).

O Prior - P. Abílio Cardoso

Publicado em 2020-05-24

Notícias relacionadas

UM OLHAR OUTRO

17 de Setembro de 2023

UM OLHAR OUTRO

27 de Agosto de 2023

UM OLHAR OUTRO

3 de Setembro de 2023

UM OLHAR OUTRO

10 de Setembro de 2023

UM OLHAR OUTRO

20 de Agosto de 2023

UM OLHAR OUTRO

6 de Agosto de 2023

desenvolvido por aznegocios.pt