UM OLHAR OUTRO

25 de Outubro de 2020

E voltamos uma vez mais ao historiador Rodney Stark para retomarmos as suas considerações no livro Falso Testimonio, onde ele procura pôr em causa a objectividade de tantas acusações à Igreja Católica. Hoje e nos números seguintes, vamos falar do cap. 6, que ele intitula «Monstros da Inquisição». Começa assim:

«A expressão Inquisição espanhola traz à nossa memória um dos capítulos mais terríveis e sangrentos da história ocidental. Criada em 1478 pelos monarcas espanhóis Fernando e Isabel, a Inquisição recebeu o encargo de tornar a Espanha livre de hereges, especialmente judeus e muçulmanos que pretendiam passar por cristãos. Mas a Inquisição esteve também de olho atento a todos os protestantes, bruxas, homossexuais e delinquentes doutrinais e morais de toda a espécie».

Foi sobretudo quando o fanático Tomás de Torquemada foi nomeado Inquisidor Mor que a Inquisição torturou e matou grande número de inocentes. Com os autos de fé, aos sábados, muitos tidos como hereges eram queimados vivos e também livros proibidos e até tratados científicos. E até houve inquisidores que se tornaram ricos pela confiscação dos bens das vítimas.

Foi em 1567 que um livro devastador, contando os horrores da Inquisição, logo traduzido em várias línguas, deu a conhecer tais horrores, pois que a sua parte principal «descreve passo a passo o processo a que se via submetida uma vítima inocente até terminar na fogueira». Foi com base nestes relatos que o popular historiador Will Durand (1885-1981) deixou para gerações de leitores da actualidade a ideia de que «temos de classificar a Inquisição (…) entre as manchas mais escuras na memória da humanidade, reveladora de uma ferocidade desconhecida entre as bestas». E acrescenta o nosso autor: «Não só historiadores, mas também novelistas, pintores e guionistas de cinema recriaram muitas vezes cenas de brutal sadismo inquisitorial».

E continua: «Quantas foram as vítimas da Inquisição? A enciclopédia da Microsoft Encarta diz que Torquemada «executou milhares». A Encyclopedia of Religious Freedom atribui-lhe um total de 10.000 mortos, como também Edmond Paris, que sustenta ainda que nas prisões de Torquemada morreram mais 125.000 pessoas em consequência das torturas e pela fome. Alguns historiadores calcularam que durante o período de vigência da Inquisição foram queimadas na fogueira mais de 31.000 pessoas, embora Simon Whitechapel sustente que só durante o mandato

de Torquemada os mortos foram mais de 100.000. Outro historiador defendeu que a Inquisição queimou na fogueira ‘cerca de 200.000 (…) em 36 anos. Por seu lado, David Hunt afirma que, no total, a Inquisição condenou mais de três milhões de pessoas, aproximadamente 300.000 das quais foram queimadas na fogueira».

Mesmo com a disparidade dos números, os autores estão de acordo que a Inquisição foi um banho de sangue, que envenenou as atitudes para com a Igreja católica. E recentemente, «em 2003, Simon WhiteChapel começou o seu livro sobre as ‘atrocidades’ da Inquisição com estas palavras: «Desde o início, desejo que fique bem claro: pessoalmente, sinto desprezo pela Igreja Católica».

Até aqui, nós estávamos de acordo com tal relato. Sem contestação. A história foi assim contada. E nós, católicos, carregamos, envergonhados esta história. Mas terá sido assim?

Uma vez mais, o nosso autor vai olhar para as fontes, analisar os documentos e dar uma outra versão. Certamente fazendo a sua leitura dos dados. Serão credíveis as fontes que ele consulta? É o que devemos perguntar-nos.

E Rodney continua: «O informe standard sobre a Inquisição espanhola é, em boa medida, uma série de mentiras, inventadas e difundidas por propagandistas ingleses e holandeses no século XVI, coincidindo com as guerras que estas duas nações tiveram com Espanha, repetidas, desde então, por historiadores maliciosos ou mal informados, empenhados em confirmar ‘uma imagem de Espanha como nação de fanáticos intolerantes’. A obra que deu início aos relatos sangrentos foi escrita por Montanus, um monge renegado espanhol que se tornou luterano e fugiu para a Holanda. Para ele «todas as vítimas da Inquisição são inocentes, todos os funcionários da Inquisição são subornáveis e falsos, todos os passos do procedimento representam uma violação da lei natural e racional». Só que… «os novos historiadores da Inquisição descobriram que, ao contrário do que acontecia nos tribunais laicos de toda a Europa, a Inquisição espanhola foi uma força coerente em favor da justiça, da moderação, das boas práticas dos juízes e do Iluminismo».

Os novos historiadores tiveram acesso aos arquivos, que eram secretos, da Inquisição de Aragão e de Castela. E puderam ler os processos de 44.674 casos investigados entre os anos 1540 e 1700. Tais casos são uma mina de ouro para os historiadores modernos. Dados que estão agora introduzidos numa base de dados que facilita a sua análise estatística. É com base em tais documentos, agora de fácil acesso, que os novos historiadores (Carlo Ginzburg, Henbry Kamen, E. William Monter, John Tedeschi) têm escrito. E o nosso autor baseia-se neles para nos dar uma visão diferente da que conhecemos. Como veremos a seguir.

P. Abílio Cardoso

Publicado em 2020-10-24

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