
«O Estado Novo [ainda] não saiu de Portugal»
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
Cerca de 7 meses após um escândalo de proporções planetárias sobre
“centenas de crianças indígenas” sepultadas de modo anônimo “em escolas
católicas do Canadá”, uma reviravolta coloca grande parte das narrativas de
2021 na berlinda.
O historiador Jacques Rouillard, professor emérito na Faculdade de História
da Universidade de Montreal, publicou no portal canadense DorchesterReview.ca,
neste último dia 11 de janeiro, um texto em que afirma que “nenhum corpo” de
criança foi encontrado em alegadas valas comuns, sepulturas clandestinas ou em
qualquer outra forma de sepultamento irregular na Escola Residencial Indígena
Kamloops, no Canadá – e muito menos foram achados indícios de que alguma delas
tenha sido assassinada.
De acordo com o levantamento apresentado por Rouillard, 51 crianças
morreram naquele internato ao longo dos 49 anos transcorridos entre 1915 e
1964. No caso de 35 delas, foram encontrados documentos que comprovam que a
causa da morte, para a grande maioria, foram doenças, e, em alguns casos,
acidentes. Nenhuma das 51 crianças falecidas foi assassinada.
Narrativas viralizam em 2021
Ao longo de 2021, porém, teve ampla divulgação na grande mídia canadense,
com repercussão mundial, a alegada descoberta de sepulturas sem identificação
em escolas residenciais indígenas do país. Transportadas imediatamente para as
redes sociais, estas alegações se transformaram em narrativas diversas, algumas
das quais afirmavam que “centenas de crianças” haviam “sido mortas” e
“enterradas secretamente” em “valas comuns” ou em túmulos irregulares dentro
dos terrenos de “escolas católicas” espalhadas “por todo o Canadá”.
De fato, várias das escolas residenciais indígenas em questão, embora
pertencessem ao governo canadense, tinham sua gestão confiada a congregações
religiosas, muitas delas católicas. Por esta razão, a Igreja foi rapidamente
acusada de “conivência ou omissão” diante de “abusos e atos de violência,
física e psicológica”, infligidos às crianças nativas naquelas instituições,
que haviam sido implantadas pelo governo do país para, em tese, “integrar
crianças nativas” à sociedade canadense. O modelo governamental de suposta
“integração”, porém, foi acusado de forçar as crianças a se distanciarem
bruscamente da sua cultura, tradições e idiomas. Como não foi possível
sustentar a narrativa de que “centenas de crianças” tinham “sido mortas” em
“escolas católicas”, a mídia passou a enfatizar a indignação social causada não
pelas mortes em si, mas pela maneira como as crianças eram separadas da família
tanto em vida quanto no próprio sepultamento.
Até mesmo a China, cujo governo comunista perpetra explicitamente abusos
sistemáticos e comprovados contra os direitos humanos dos próprios cidadãos,
teve o desplante de exigir no Tribunal de Direitos Humanos da ONU, em junho de
2021, uma investigação sobre as “violações aos direitos humanos da população
indígena do Canadá”. A Anistia Internacional, organização que defende
abertamente o assassinato de bebês em gestação por meio do aborto livre, também
exigiu que os responsáveis pelos “restos mortais” que
“foram encontrados” em Kamloops fossem processados.
Novas informações e questionamentos
Mas Jacques Rouillard questiona: onde estão estes alegados “restos
mortais”?
Segundo o extenso e detalhado artigo do pesquisador, a suposta “descoberta”
de mais de “200 corpos” de crianças “mortas em escolas católicas” se baseou
numa varredura de solo, feita por radar, em busca de corpos de crianças que já
se pressupunha que tivessem sido anonimamente sepultadas em terreno pertencente
à escola residencial indígena de Kamloops. Um relatório preliminar não
encontrou corpo algum, mas sim rupturas do solo num pomar de macieiras das
proximidades. Nenhum “resto mortal” chegou a ser exumado, mas a líder indígena
canadense Rosanne Casimir afirmou que, “de acordo com o ‘conhecimento’ da
comunidade”, aquelas anomalias do solo “eram 215 crianças desaparecidas”,
incluindo algumas de apenas 3 anos de idade.
Rouillard prossegue a exposição das suas investigações afirmando que, com
base naquelas anomalias do solo, a jovem antropóloga Sarah Beaulieu, que havia
supervisionado as assim descritas “varreduras”, teorizou que “provavelmente”
havia 200 “possíveis sepultamentos” no local. Somente uma escavação, no
entanto, poderia apresentar evidências – mas nenhuma escavação foi feita, nem
na época, nem até hoje (!)
Desproporcionalidade das reações
As desvirtuações de informação provocaram uma série de violentos ataques incendiários contra
igrejas católicas no país.
Mesmo com a responsabilidade final pelas escolas e pela sua metodologia
cabendo ao governo canadense, os bispos católicos do Canadá fizeram
publicamente um pedido de desculpas pelas graves falhas cometidas por membros
da Igreja na gestão daqueles internatos. Além das palavras, a Igreja também
assumiu compromissos concretos com as comunidades nativas canadenses. Segundo o
Vatican News, foram disponibilizados 30 milhões de dólares, em todo o Canadá,
durante cinco anos, para financiar programas a serem definidos conjuntamente
entre as lideranças indígenas e as dioceses, paróquias e órgãos da Igreja no
país. Dom Donald Bolen, arcebispo de Regina, disse que seria “um longo caminho”
e que era “importante percorrê-lo: precisamos continuar com ações concretas por
justiça e reconciliação”.
Representantes das comunidades indígenas canadenses manifestaram à Santa Sé
o desejo de um encontro pessoal com o Papa, exigindo diretamente dele um pedido
de desculpas. O Papa Francisco se declarou disposto a aceitar. Em 27 de outubro
de 2021, o boletim diário da Santa Sé informou que “a Conferência Episcopal do
Canadá convidou o Santo Padre a fazer uma viagem apostólica ao Canadá, também
no contexto do longo processo pastoral de reconciliação com os povos indígenas.
Sua Santidade indicou a sua disponibilidade para visitar o país, numa data a
combinar”.
Enquanto isso, em contraposição à postura de responsabilização e
reconciliação que a Igreja Católica apresentou desde o início das supostas
“descobertas”, manifestantes radicais anticatólicos reagiram com estúpida
violência no Canadá, promovendo uma onda de ataques contra igrejas e, com isso,
dando uma mostra do que seria na realidade o seu hipocritamente alegado “desejo
de paz e reconciliação”.
Reviravolta
Agora, a reviravolta provocada pela extensa matéria de Jacques Rouillard
começa a repercutir em outros veículos da América do Norte, questionando as
anteriores narrativas e suas intenções.
O “The Spectator World”
se pergunta: “Por que o governo canadense não esperou por provas antes de
lançar o país numa espiral de fúria e violência anticristã?”.
O “National Post”
reforça a proposta do próprio Jacques Rouillard de exortar todos os canadenses
a se questionarem se, “no caminho para a reconciliação, não seria melhor
procurar e contar a verdade completa em vez de criar deliberadamente mitos
sensacionalistas”.
O “The Daily Wire“, em
matéria cujo título diz que “a narrativa pode estar colapsando”, recorda que,
na época das alegadas “descobertas”, o primeiro-ministro canadense Justin
Trudeau declarou categoricamente que “restos mortais foram achados na antiga
escola residencial Kamloops” e que tal achado “parte meu coração”, porque,
segundo ele, “é uma dolorosa lembrança daquele capítulo escuro e vergonhoso da
história do nosso país”.
Que a história real e completa seja agora – literalmente – escavada e
exposta ao mundo.
Francisco Vêneto, In Aleteia 1.02.2022
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
Francisco Vêneto - publicado em 26/07/22, in Aleteia
Pedro Vaz Patto, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
Senhor ministro da Educação, se não quer ficar na história como o Inquisidor da propaganda de género, desbloqueie este nó górdio por si criado pois tem no Parlamento uma maioria do seu partido.
Isabel Ricardo Pereira, In 7Margens, 6.07.2022
Jorge Bacelar Gouveia