
"Direito constitucional" ao aborto?
Jorge Bacelar Gouveia
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou as novas orientações para o culto e atividades pastorais, prevendo, entre outras medidas, a possibilidade de se realizar a tradicional Visita Pascal às habitações dos fiéis, suspensa desde 2020.
Esta era uma medida aguardada por muitas paróquias e muitos fiéis, uma vez que
as visitas pascais, com particular relevo no Norte do país, são uma prática
enraizada na população, e também uma importante fonte de rendimento para muitas
paróquias, que aproveitam a visita para a recolha da côngrua, essencial para a
sobrevivência económica dos muitas párocos.
A nota da CEP refere ainda que, “no rito de adoração da cruz na Sexta-feira Santa, deve omitir-se o beijo na cruz, substituindo-o pela genuflexão ou inclinação” e que, na visita pascal, deve também omitir-se o “beijo à cruz” e a aspersão da água benta.
Depois de algumas observações feitas na última palestra do clero de Vieira do
Minho sobre as directivas da Conferência Episcopal para as celebrações pascais,
alguns párocos já começaram a reunir com os seus Conselhos Pastorais para
preparar a Visita Pascal 2022. Como escreveu o Padre Amaro Gonçalo na Voz
Portucalense de 23 de Fevereiro, está na hora de “sinodalizarmos as nossas
opções pastorais, a propósito da Visita Pascal de 2022, que se avizinha, para
caminharmos juntos e não cada um para seu lado…
É tempo de nos ouvirmos, de conversarmos, de partilharmos ideias e sugestões,
para discernirmos juntos as melhores escolhas. Façamo-lo no âmbito
dos nossos conselhos pastorais e vicariais, no diálogo franco com as pessoas da
comunidade e mesmo com aquelas que nos parecem mais distantes e têm uma palavra
a dizer”.
Enquanto não chegam novas directivas da Arquidiocese de Braga, deixamos aqui
algumas pistas apontadas por aquele sacerdote para um “caminho que poderemos
percorrer juntos:
1. No contexto de uma
pandemia, que não nos largará de vez, mas que dará lugar a uma endemia, com
menos restrições no âmbito da convivialidade humana, seria ainda precoce, este
ano, fazer uma visita pascal «casa a casa». Porquê? Os movimentos de entrada e
de saída, de proximidade e de contactos entre pessoas de proveniências
diversas, podiam potenciar focos de contágio e de propagação do vírus que a
ninguém interessa. Estaremos de acordo quanto a isto?
2. Os que, porventura, defendem, já para este ano, uma visita pascal, casa a casa,
no estilo tradicional, anterior à pandemia, como sugerem o controle destes riscos
de contágio, provocados por grupos de pessoas que andam de casa em casa? Não
estarão as nossas famílias «de pé atrás» relativamente a uma visita pascal,
casa a casa? Qual seria a sua recetividade? Não será uma temeridade esta
mobilidade?
3. A veneração à Cruz Pascal com um beijo, seja na rua, seja dentro de casa, é
uma prática a evitar, por razões sanitárias óbvias. Mas concordamos todos com
isto? Não se poderia pensar num gesto diferente de veneração à Cruz: uma inclinação,
a oferta de uma flor, a recitação de uma oração pascal ou de uma oração de
bênção da cruz etc?!
4.Eventualmente poderia admitir-se o beijo à Cruz, – dirão alguns – desde
que esta Cruz (beijada dentro ou fora de casa) fosse única e própria em cada
família?! Mas isso não poria em causa o sinal comum de uma cruz paroquial
pascal? Não seria, mesmo no caso de se beijar uma cruz familiar, um gesto de
riscos incontroláveis, tendo em conta que se reúnem em famílias, neste dia,
pessoas não coabitantes? Que pensamos disto? O gesto do beijo da Cruz, na
visita pascal, não será uma prática a rever, desde agora e para sempre?
5. Para dar alguns passos, num tempo que já é bem diferente daquele que vivemos
na Páscoa de 2020 e 2021, não se poderia pensar numa visita pascal, que fosse
uma espécie de «arruada» pelas várias ruas e lugares da Paróquia, mesmo sem
entrar nas casas dos paroquianos?
6. Não se poderiam organizar percursos de visita pascal, por ruas e lugares
da paróquia, com o toque das campainhas, convocando as pessoas a descerem e a
saírem à rua, a virem à porta de casa, a reunirem-se em pequenos grupos, para
publicamente saudar e rezar um pouco, em volta da Cruz Pascal e paroquial?
7. Não se poderia, em alguns casos, sinalizar previamente alguns lugares ou zonas
da Paróquia, onde a equipa da visita pascal parasse para aí fazer uma oração
pascal, ou uma oração de bênção e de veneração à Cruz, com os vizinhos dessa
zona?!
8. Sendo que os contextos pastorais são muito diversificados, como poderíamos
adotar práticas que manifestassem o nosso propósito de «caminhar juntos» também
na retoma criativa da Visita Pascal?
O Jornal de Vieira: 2022-03-11
Jorge Bacelar Gouveia
Armindo Vaz, OCD
Ana Maria Ramalheira
Dina Matos Ferreira | 21 Mai 2022
Emanuel do Carmo Oliveira
Vendo o que está a acontecer agora na Rússia, não posso estar mais grato a quem me deixou como herança esta Igreja liberta das garras da Política.