
«O Estado Novo [ainda] não saiu de Portugal»
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
Alguns grupos da Igreja ainda sonham com a
reconstituição da união entre a Igreja e o Estado. Deseja-se, muitas vezes, que
o Estado concorra com as ideias e as doutrinas da própria Igreja na elaboração
das suas leis. Eu, porém, nunca pensei em abençoar tanto os bispos que, na
Primeira República, tiveram de organizar a Igreja com a separação entre a
Igreja e o Estado. Não deve ter sido fácil, mas deve ter sido um grande alívio.
Alguns
pensam que o Estado se emancipou da Igreja, mas eu, pelo contrário, penso que a
Igreja vivia agrilhoada pela própria política e a Lei da Separação entre a
Igreja e o Estado trouxe uma liberdade que até então a Igreja não tinha. A
Igreja podia agora decidir os destinos dos seus clérigos, profetizar contra as
políticas e os governos, avançar com a sua pastoral sem ter de dar contas aos
políticos.
Vendo
o que está a acontecer agora na Rússia, não posso estar mais grato a quem me
deixou como herança esta Igreja liberta das garras da Política. Esta ideia de
que a Igreja Ortodoxa Russa, liderada pelo Patriarca Kiril, não tenha
profetizado contra esta invasão à Ucrânia, leva-me a repensar muito do que
sentia sobre este tema.
Não
há dúvida que a separação entre a Igreja e o Estado é um bem para a própria
Igreja. Muitos chamar-me-ão modernista (porque eu sei que esta é uma ideia
modernista), mas não me importo. Eu, na verdade, até começo a pensar que sou um
liberal.
No
futuro, teremos de nos habituar a viver numa sociedade em que Lei aprove tudo e
mais umas botas. Vamos, mesmo, ter de conviver com a multiculturalidade, com a
diversidade, com a heresia legalizada, com a perseguição à fé, com a
incompreensão.
Prefiro
assim! Prefiro que o Estado siga o seu caminho, mas eu ter a liberdade de
seguir o meu caminho e que cada um possa seguir o seu caminho. É verdade que se
coloca um problema filosófico ou moral: pode uma lei aprovar uma realidade da
vida que seja conforme ao erro? É estúpido, mas é verdade: sim, a democracia e
o liberalismo leva-nos para que tal possa acontecer…
Começam
a aparecer muitas leis que contrariam a própria investigação científica e que,
quer filosófica, quer cientificamente, são um erro! Mas temos de ter coragem de
assumir que este será o futuro. O Estado vai legislar conforme as paixões
individuais e sociais.
O
trabalho da Igreja, no entanto, é de ajudar os homens a viverem esta liberdade
profética de renunciarem a realidade que, mesmo legais, são imorais.
É
um preço que temos de pagar? Sim… mas é preferível sermos livres a estarmos
agrilhoados pelo Estado e pela Política, ou ser a Igreja a agrilhoar o que quer
que seja.
A
Igreja precisa, mesmo, de encontrar formas de libertar os homens e não de os
aprisionar a leis. O que vejo na história de Israel é simples: apesar do pecado
do homem, Deus está sempre à procura de uma forma de salvar o homem das suas
manias.
Eu
nem me consigo imaginar viver debaixo de uma Igreja que legitime tamanha
injustiça como é esta que está a acontecer na Ucrânia. Eu tenho até a sensação
de que o futuro da Igreja Ortodoxa Russa estará totalmente comprometido com
esta guerra. Muitos dos ucranianos são mesmo parte desta Igreja, mas estão a
ser agredidos por aqueles que os deviam proteger.
Situações
destas ocorreram no passado na Igreja Católica e o trauma persiste na memória
coletiva até aos dias de hoje. Mesmo com uma história mal contada, as Cruzadas
ainda são um problema. Mesmo com muitas mentiras, não sei se algum dia iremos
compreender a Inquisição.
De
facto, eu penso que prefiro correr o risco de viver numa sociedade liberal que
me deixa errar, mas que me dá a liberdade de voltar à verdade, do que viver
numa sociedade que não me deixa pensar.
Edgar Clara (Pe), In SOL 05.04.2022
Mário Pinto, in Observador - 30 jul 2022
Francisco Vêneto - publicado em 26/07/22, in Aleteia
Pedro Vaz Patto, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
Senhor ministro da Educação, se não quer ficar na história como o Inquisidor da propaganda de género, desbloqueie este nó górdio por si criado pois tem no Parlamento uma maioria do seu partido.
Isabel Ricardo Pereira, In 7Margens, 6.07.2022
Jorge Bacelar Gouveia