
Pelo sinal da santa cruz - Tanto faz não é resposta
Carmen Garcia
A minha mãe já dizia:
«De Espanha, nem bom vento nem bom casamento!». Claro que a frase nada tem que
ver com qualquer espécie de fobia, mas sim com o passado histórico e também com
o facto de, mais tarde ou mais cedo, o que é aprovado em Espanha vir a ser aprovado
por cá. Assim, no dia 9 de Fevereiro de 2023, ficámos a saber que a Espanha
aprovou uma lei na qual se assegura que menores de 12 anos possam
mudar de sexo sem parecer médico[1].
Ou seja: a criança faz o seu próprio auto-diagnóstico e entra imediatamente num
processo penoso e doloroso que a tornará dependente de medicação para toda a
vida, a conduzirá à mutilação genital aprovada no Ocidente e, muitas vezes, ao
suicídio. Creio que não será demais recordar que, infelizmente, muitos pais
poderão usar os filhos para se promoverem e até para verem satisfeita a sua
vontade de ter um rapaz ou uma menina, independentemente de a criança ter
nascido com o sexo pretendido pelos papás, ou não.
Assim,
e num momento em que há países a reverter leis como a que Espanha acaba de
aprovar[2] (e
que Portugal já aprovou em 2018 (Lei 38/2018), mas só para menores a partir dos
16 anos), urge esclarecer os leitores sobre os diversos passos do processo de
mutilação genital de crianças, que tem vindo a ser imposto à sociedade por meio
de políticas identitárias, apresentadas e aprovadas por políticos pró-ideologia
do género, normalmente de esquerda.
No
primeiro artigo[3],
escrevi sobre os bloqueadores da puberdade e os danos que causam a crianças e
adolescentes. Hoje, baseando-me em estudos e obras de cientistas e autores
consagrados, mais especificamente no livro Irreversible Damage,
de Abigal Shrier, escrevo sobre o tratamento com hormonas do outro sexo.
De
acordo com o Dr. William Malone, endocrinologista de adolescentes e adultos e
um dos médicos mais críticos a respeito da administração de bloqueadores da
puberdade e hormonas do outro sexo a menores, os riscos de bloquear a glândula
pituitária sem uma justificação médica observável são terríveis. Segundo ele:
«Depois de um certo período, basicamente, é como se o sistema adormecesse e
pode acontecer que a partir de um determinado momento não volte a acordar».
Esta
ideia de que as crianças podem auto-diagnosticar que são do outro sexo – sem
qualquer acompanhamento médico especializado - e submeter-se à dependência de
drogas para o resto da vida, é um desvio total do protocolo médico normal.
Mesmo permitindo que os pais dêem o seu consentimento, para algum procedimento
médico nos seus filhos adolescentes ou pré-adolescentes, geralmente deveria ser
para permitir que os médicos os salvem, curem ou aliviem de um problema médico
observável. Mas, no caso singular da medicina transgénero, sobre a base de um
suposto sofrimento psicológico indicado pelo paciente, permite-se que um
pai consinta numa intervenção que detenha o funcionamento biológico normal e
saudável – em essência, introduzindo o estado de doença causado por um tumor na
glândula pituitária.
Levando
a transição a sério: hormonas do outro sexo
Tal
como acontece com as drogas, alertar os adolescentes sobre os riscos da
testosterona pode não ser suficiente para que eles não a queiram experimentar.
Afinal, todos os influencers que
eles seguem e que, inclusive, têm acesso privilegiado às salas de aula das
escolas, lhes vão dizer que a testosterona acaba com a ansiedade, alivia a
depressão e os seus efeitos são totalmente reversíveis.
Claro,
que também pode reduzir a memória a curto prazo e aumentar o mau-humor e a
irritabilidade, mas isso é problema das outras pessoas. Afinal, se a pessoa que
está a tomar testosterona se sente tão bem, que lhe importa se foi grosseira ou
agressiva?
Depois,
há o espelho, o odioso inimigo das adolescentes que cresceram com a Barbie como
modelo. A testosterona redistribui a gordura de uma adolescente para longe dos
lugares que a deixam consternada: coxas, quadris e traseiro. Ela já não tem de
recear mais boatos sobre o seu corpo… Ninguém examina as fotografias de um
rapaz à procura de espaço entre as pernas, pneus e celulite. Durante os
primeiros meses de injecções, quando o pêlo começa a brotar pelo corpo e a
barba aparece no rosto, será evidente que o seu corpo de menina não voltará a
ser exposto ao ridículo. Agora, pertence à equipa dos rapazes.
Como
se pode comprovar em mais de seis mil vídeos, no Youtube, sobre
«como injectar-se testosterona», para uma menina que se identifique como trans,
a testosterona é um passeio. Pouco depois de começar, a euforia invade-a e mal
pode esperar pelo momento de contar a todos os seus amigos, e ao mundo inteiro,
como se sente bem. Quem o diz é o youtuber trans-masculino
Alex Bertie: «Tomar testosterona foi a melhor decisão que tomei. Estou tão
feliz dentro de mim. Não resolveu todos os meus problemas, mas deu-me a força
necessária para aproveitar a vida ao máximo e lutar contra os meus outros
demónios, como os meus problemas sociais». Finalmente, auto-soberania. Eu
crio-me como quiser. Eu sou deus.
Em
2007, nos Estados Unidos, havia uma clínica de género. Hoje, há mais de
cinquenta. A Planned Parenthood,
a maior rede de clínicas de aborto do mundo (em Portugal é a APF), também
oferece testosterona. Todas elas o fazem na primeira visita, mediante o
«consentimento informado» do menor, sem requerer nenhum relatório médico ou
terapia. A idade de consentimento varia segundo o Estado.
Outro youtuber trans, Chase Ross, incentiva os seus
seguidores: «Creio que algumas pessoas pensam que o uso de testosterona é
perigoso, que vai fazer com que tenham doenças cardiovasculares e corram
maiores riscos de sofrer um ataque cardíaco, etc. Mas o que devemos ter em
conta é que o risco que agora tenho de sofrer uma doença cardiovascular ou de
sofrer um ataque cardíaco está ao mesmo nível dos riscos que correm os homens».
Ou
seja: Chase acredita que tudo o que a testosterora lhe fez foi permitir que
tenha o mesmo risco (de padecer de uma doença cardiovascular) que teria se
tivesse nascido rapaz. Que loucura! “Ele” olha para o aumento dos riscos para a
sua saúde como outra vantagem… como uma espécie de tatuagem que te torna membro
de um gang. Afinal, se queres converter-te num homem, espera-se que sejas forte
como um e tenhas a mesma propensão a sofrer ataques cardíacos.[4]
Muitas
das raparigas presas nesta epidemia ideológica podem estar a automedicar-se sem
saber. Chamam à sua angústia «disforia de género», mas pode ser que o que
estejam a tratar seja uma ansiedade, uma depressão, ou até ambas, como tem
acontecido com a grande maioria.
Depois
de alguns meses de testosterona, a voz de uma menina começa a engrossar, o seu
rosto cobre-se de acne, pode experimentar calvície masculina, o nariz começará
a arredondar-se, a mandíbula a ficar quadrada e os músculos também crescerão.
Tal
como uma anoréxica faria com o seu processo de emagrecimento, ela olha para
essas mudanças no espelho. Mas, ao contrário da anoréxica, está a tornar-se
mais forte; pode senti-lo. Começa a parecer-se com um homem em ponto pequeno. A
barba aparece e estabelece a sua virilidade. O seu desejo sexual
intensifica-se. O seu clitóris começa a crescer; pode crescer até alcançar o
tamanho de uma mini-cenoura, ainda que o seu novo erotismo possa ver-se
limitado ao «fá-lo tu mesmo», pois um dos principais efeitos secundários da
testosterona é a atrofia vaginal: secura, fissuras e regressão. O coito
torna-se doloroso. Frequentemente, as jovens em processo de transição tornam-se
tão hiper-conscientes das mudanças espectaculares que se produzem no seu corpo
que temem aproximar-se e muito mais despir-se, à frente do seu parceiro sexual.[5] Seja
qual for o tipo de euforia que estas raparigas perseguem, não chega para as
ajudar a conseguir uma conexão física com outra pessoa.
Testosterona:
os riscos
Chase
Ross estava errado. Talvez o facto de tomar hormonas há nove anos lhe tenha
conferido algo mais do que a fragilidade cardiovascular de um homem biológico.
Talvez tenha feito com que o risco de padecer de uma doença cardiovascular seja
muito maior.[6] A
testosterona engrossa o sangue. Para produzir as mudanças que procuram, às
mulheres que se identificam como transgénero é-lhes dada uma dose de
testosterona dez a quarenta vezes maior do que aquela que os seus corpos
suportariam normalmente.[7] Há
alguns indícios de que as mulheres biológicas que tomam estas doses de
testosterona possam ter quase cinco vezes mais risco de sofrer um ataque
cardíaco do que as mulheres que não a tomam, e duas vezes e meia mais do que os
homens.[8]
Uma
vez que a dose se rege pela aparência física desejada – muito mais do que para
aliviar uma doença física -, guia-se por princípios estéticos e não médicos.
Geralmente, justifica-se a testosterona como tratamento para a «disforia de
género», mas os endocrinologistas que a administram raras vezes parecem avaliar
o progresso da disforia de género do paciente. O que eles testam, em vez disso,
são os níveis sanguíneos para garantir que a testosterona permaneça dentro dos
valores normais para um homem.
Isso
parece colocar os endocrinologistas (e com a mesma frequência os enfermeiros)
na posição de cabeleireiros, que buscam satisfazer, em vez de profissionais
médicos, que buscam curar.
As
diretrizes médicas transgénero são bastante claras acerca disso. As Diretrizes para Atenção Primária e Afirmação de Género de Pessoas
Transgénero e Não-binárias, publicadas pelo Centro de Excelência
para Saúde Transgénero da Universidade da Califórnia em San Francisco, declaram
sem rodeios: «O objectivo da terapia com hormonas masculinizantes é o
desenvolvimento das características masculinas secundárias e a
supressão/minimização das características sexuais secundárias femininas»[9].
Alguma
vez ouviu dizer que os tratamentos com testosterona são necessários para
aliviar a dor causada pela disforia de género?
Então,
se realmente se trata de aliviar a dor mental de quem sofre de um grave
transtorno da identidade sexual, porque é que os médicos que prescrevem
testosterona estão menos interessados no tratamento da «disforia de género» do
que em dar às pacientes que se identificam como trans a aparência que desejam?
Porque é que enquanto o pelo crescer e os exames de sangue mostrarem que
a testosterona permanece em níveis masculinos, é improvável que a dosagem seja
questionada ou alterada?
As
mudanças permanentes produzem-se pouco tempo depois de começar o tratamento com
hormonas do outro sexo. Se uma rapariga biológica se arrepender da sua decisão
e deixar de tomar testosterona, é provável que o pelo corporal e facial
permaneça, assim como o ingurgitamento clitoriano, o espessamento do sangue e a
masculinização dos traços faciais. Ainda que, para atingir os efeitos completos
da transição, se devam manter as elevadas doses de testosterona, a sua
supressão não devolve uma adolescente ao ponto de partida. Também há dores e
inconvenientes associadas à testosterona. Além da dolorosa atrofia vaginal, há
dores musculares, dolorosas cãibras devido à endometriose, aumento da
transpiração, mau humor e agressividade. Os efeitos a longo prazo incluem um
aumento das taxas de diabetes, derrames cerebrais, coágulos sanguíneos, cancro
e, como já vimos, doenças cardíacas. Em geral, aumenta o risco de
mortalidade. E, devido ao risco de cancro uterino, depois de 5 anos de um
tratamento com testosterona, com o apoio dos seus médicos, muitas mulheres
submetem-se a uma histerectomia e a uma ooforectomia profilática (extirpação do
útero e dos ovários).
Portanto,
seja graças ao Lupron (usado para bloquear a puberdade), ou directamente à
testosterona, no fim desta história chega a esterilidade. Inúmeras meninas
estão a apostar a sua identidade, nome e corpo na promessa de um novo começo, e
tudo o que recebem é a esterilidade permanente.
Mas,
pensará o leitor: «Depois de todos os riscos e sacrifícios, pelo menos a
disforia desaparece, certo?»
Não.
De facto, não há bons estudos a longo prazo que indiquem que após a transição
médica a disforia de género e as tendências suicidas diminuam. E, ainda falta a
dupla mastectomia. Escreverei sobre isso no próximo artigo.
A autora rejeita o AO90, escrevendo em português correcto.
In Sol: Maria Helena Costa, 15 de fevereiro 2023
Carmen Garcia
“As ruas e as praças de Lisboa não pertencem apenas aos sindicatos e não são propriedade da extrema-esquerda. Até os Católicos se podem manifestar, porque há separação entre a Igreja e o Estado.”
Cristina Robalo Cordeiro
Maria Susana Mexia
Alberto João Jardim
João Gonçalves, In Jornal de Notícias, 27/03/2023