PE. MANUEL MARIA MADUREIRA

AMULETOS E SUPERSTIÇÕES

 

Europa do século XXI não tem comparação possível com a Europa da Idade Média.

Isso é literalmente verdade, se estivermos a pensar no seu desenvolvimento técnico-civilizacional. A evolução é notória. Bem diferente é o resultado da pesquisa se tivermos em conta as crendices, a respeito das quais muita coisa permaneceu igual - estou a referir-me à religiosidade popular e às superstições, nas quais se incluem astrologias, signos, quiromancia, cartas e toda a espécie de amuletos capazes de “destruírem” feitiços, mau-olhado e bruxedos. Um caso concreto bem atual: “Senhor Padre, passei por Fátima e comprei lá estes objetos que uma senhora me pediu. Pode benzê-los?” Respondi que sim, mas que, primeiro; os desembrulhasse.

Havia uma mistura de crucifixos, medalhas. Pulseiras, terços, figas, amuletos, talismãs, corninhos, cruzes de feitio, tamanho e material diverso. Imaginem a desfaçatez da senhora ao dizer-me que nem sabia o que trazia no embrulho. E imaginem também as palavras que eu tive de proferir depois de separar o que havia de religiosidade e de superstição. Aproveitei o ensejo para catequizar e lembrei que comprar objetos em Fátima não é garantia nem sinal de fé, porque à volta de Fátima e por causa de Fátima há muito comércio. Disse também que os maus espíritos, os feitiços e os espíritos e os bruxedos só “atacam” a parte irracional do ser humano e que, portanto, toda a pessoa que possua uma razão impassível está totalmente livre dos efeitos da feitiçaria, precisamente porque lhe não reconhece a mínima credibilidade. Popularmente, diz-se que as superstições são assunto de gente de «sangue fraco». Contudo, o supersticioso é um mitómano, um masoquista incapaz de perceber quão irracional é o absurdo do seu temor mágico. Convictamente, prefere confiar no amuleto pendurado ao pescoço ou guardado em sítio propício, e assim fomentar a boa sorte e evitar as más influências.

Francamente! Como é que, em pleno século XX, estas coisas ainda acontecem! Como é que, na mente popular, ainda não está clara distinção entre cruzes, medalhas religiosas e amuletos! E, na realidade, há muitos elementos disponíveis para concluir que muitos cristãos de «sangue fraco» acreditam na ação puramente mágica desses objetos. Há quem use uma medalha benzida de Santo António para ter sucesso garantido na busca do amor e no consequente casamento. Para muitos, o crucifixo, as medalhas e as relíquias dos santos constituem poderosíssimo amuleto que têm virtudes inimagináveis. E não estamos longe da superstição - felizmente já bastante mitigada - no uso de velas, rézinhas, água de Lourdes, de Fátima e do rio Jordão e de um determinado número de missas mandadas celebrar pelas «alminhas». Sobre a água benta, cheguei, a ver, numa igreja, uma senhora com uma esponja, apanhá-la da pia e deitá-la para uma garrafinha- «que a fé e que nos salva e faz bem beber aquela água»assim se justificava!...

Em todo caso, pode admitir-se que os amuletos «funcionem» e «protejam» favoravelmente o crédulo, mas sempre se tratará de sugestão, duma proteção falsa e perigosa.

Atribuir ao amuleto uns poderes mágicos que, evidentemente, ele não possui, é fomentar a alienação, a mentalidade mágica infantilizante, o regresso às mitologias e fingir que tudo está bem.

 

Manuel Maria Madureira, In Notícias de Beja, 24.05.2018

Publicado em 2018-06-08

Notícias relacionadas

Pe. João António Pinheiro Teixeira

A felicidade aumenta a produtividade

Pelo sinal da santa cruz - Tanto faz não é resposta

Carmen Garcia

As JMJ e o Estado Laico

“As ruas e as praças de Lisboa não pertencem apenas aos sindicatos e não são propriedade da extrema-esquerda. Até os Católicos se podem manifestar, porque há separação entre a Igreja e o Estado.”

O ESPETÁCULO DO MUNDO

Cristina Robalo Cordeiro

A batalha do absurdo

Maria Susana Mexia

A IGREJA CATÓLICA EM PORTUGAL

Alberto João Jardim

desenvolvido por aznegocios.pt