Pe. João António Pinheiro Teixeira
A felicidade aumenta a produtividade
Começamos
a entrever o fim da epidemia que transtornou profundamente os nossos
estilos de vida diários. Aconteceu algo de imprevisível, de realmente
impensável. Vivíamos num mundo doente, mas não nos aflorava a ideia de
podermos adoecer tão rapidamente e desta maneira.
E
eis a inesperada vinda de um mensageiro devastador, o coronavírus.
Alguns virólogos colocavam remotas hipóteses sobre a possibilidade de
uma tal irrupção. Só alguns, sentinelas capazes de discernir os passos
da humanidade, denunciavam, quase profeticamente, ainda que de maneira
confusa, que «corríamos em excesso, devíamos deter-nos». Sem uma mudança
concreta – diziam – aceleraríamos uma crise de proporções desconhecidas
e impensáveis.
É
significativo que este flagelo se tenha abatido sobre uma sociedade
treinada desde há décadas a pensar a “crise”, exercitada a combate-la
sob diversas formas: a crise económica, a financeira, a do tecido
social. Tudo isto no quadro dos nossos países ricos, que fazem parte do
“primeiro mundo”, onde reinam o mercado, o desenvolvimento, o consumo, a
vida opulenta, enquanto permanecem cada vez mais ocultos os débeis, os
pobres, os “descartados”. E assim as porções de humanidade “alegres e
vencedoras” tiveram de acertar contas com a fragilidade, o sofrimento,
até a uma morte desesperante.
Neste
tempo escutei muita gente, na solidão do meu eremitério pensei muito e
procurei interpretar o que estava a acontecer. Na escuta percebi muito
medo, até angústia, por este vírus que andava entre nós invisível e
desconhecido; um vírus perante o qual não são possíveis as defesas
típicas dos ricos, de quantos podem contar com o seu poder.
Em
particular aqueles com mais de setenta anos, massacrados pelos boletins
dos mortos e da exigência de se meterem “na cauda da fila” em relação
aos mais jovens e fortes, passaram por momentos de abatimento. Quase
todos pensaram na possibilidade concreta de serem contagiados e morrer.
Nunca – diziam-me – tivemos a morte tão presente, nunca estivemos tão
conscientes da nossa fragilidade. Desta maneira, a crise tornou-se uma
pergunta sobre a fragilidade e sobre o limite da morte, a que ninguém
pode fugir.
Também
descobrimos os limites da ciência, da medicina, de muitas realidades
que antes nos pareciam garantias tranquilizadoras, a nível pessoal e
social. Muitos dizem: «Livrámo-nos dela. Depressa festejaremos!». Tal
reação vital é justificada, mas não deve obscurecer em nós o sentido do
limite que (re)descobrimos, nem o acontecimento da morte, que aguarda
cada um e pode chegar imprevistamente.
Não
creio que nesta crise nos tornámos automaticamente melhores, mais
solidários, mais capazes de atenção ao outro. Issto depende da nossa
vontade e das nossas opções, a serem renovadas a cada dia. Mas se hoje
estamos mais conscientes do limite e da morte, então – como afirma o
filósofo humanista Salvatore Natoli – «tendo presente a morte, seremos
menos propensos a prevaricar sobre os outros». Só isto já não seria
pouco!
Enzo Bianchi
In Monastero di Bose
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: AngelinaBambina/Bigstock.com
Publicado em 21.05.2020
A felicidade aumenta a produtividade
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