
Sem darmos conta…
Carlos Aguiar Gomes
«Um dia, há muitos anos, um aluno perguntou à
antropóloga Margaret Mead qual era, para ela, o primeiro vestígio de
civilização humana. A sua resposta, para espanto geral foi “um fémur com 15 mil
anos encontrado numa escavação arqueológica.”
O aluno esperava que a professora falasse de anzóis,
ferramentas ou barro cozido, mas ela explicou: “O fémur estava partido, mas
tinha cicatrizado. É um dos maiores ossos do corpo humano e demora seis semanas
a curar. Alguém tinha cuidado daquela pessoa. Abrigou-a e alimentou-a.
Protegeu-a, ao invés de a abandonar à sua sorte”. Então, concluía, o que nos
distingue enquanto civilização é a empatia, a capacidade de nos preocuparmos
com os outros.»
Num mundo marcado pela busca da autossuficiência,
parece engraçada e até desajustada esta ideia de nos fazermos próximos. No
entanto os gritos dados pelo planeta têm mostrado que não parece haver outro
caminho para o avançar da civilização senão o da cooperação, pois afinal “tudo
está interligado”. O contexto em que vivemos mostrou a importância da
comunidade, como lugar de acolhimento, encontro e proximidade, simultaneamente
de crescimento e partilha de dons/bens. Vermo-nos como peças do grande puzzle
que é a comunidade exige que estejamos dispostos a encontrar maneiras
diferentes e criativas, caminhos novos para demonstrar este cuidado e esta
empatia.
Outra marca que me parece essencial é a de assumirmos
que temos de restabelecer vários “links” na sociedade em que vivemos. Acedemos
a tudo mais rapidamente, somos mais informados, temos níveis de formação mais
elevada e contrariamente a todas estas premissas parecem eclodir na sociedade
cada vez mais divisões, maiores extremismos, menor tolerância e capacidade de
integração e inclusão. Um novo elo de ligação entre as diferentes gerações,
entre os povos, entre as culturas, entre os mais ricos e os que menos dispõem
terá de ser reanimado através do diálogo, tal como é destacado “o urgente
desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a
família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”.
No mês marcado pela causa missionária, no qual o Papa
nos recorda o valor da Fraternidade com a publicação da sua nova encíclica,
fica o desafio de trabalharmos para a distinção. O prémio será certamente a
marca que deixarmos uns nos outros.
Marta Vilas Boas, In Ação
Missionária, Outubro 2020
Carlos Aguiar Gomes
P. Tiago Freitas
Fernando Pinheiro
Artur Soares
António Sílvio Couto (Pe)
António Sílvio Couto (Pe)