
Sem darmos conta…
Carlos Aguiar Gomes
Sr. Line | CC BY-SA 4.0
Cerith Gardiner - publicado em 02/12/20
"Suas almas não são deficientes! Pelo contrário,
estão mais próximas do Senhor", diz a madre superiora
No
meio da França fica a primeira ordem religiosa no mundo a receber pessoas com
síndrome de Down. As iniciativa das Irmãzinhas Discípulas do Cordeiro teve
início na década de 1980. A agora Madre Line, que é a superiora da ordem,
sentia que sua vocação era trabalhar com crianças. Por outro lado, Véronique,
que tem síndrome de Down, tinha o desejo de entrar na vida religiosa. Na
jornada da dupla para encontrar seu caminho espiritual, elas se uniram em
oração. Décadas depois a ordem está florescendo.
No
entanto, a fundação da ordem, que tem uma devoção particular a Santa Teresinha
de Lisieux e a São Bento, não foi fácil. “Visitei várias comunidades que
acolhem pessoas com deficiência, mas vi que elas não conseguiam encontrar o seu
lugar nessas comunidades porque não eram adequadas para elas”, compartilhou
Madre Line com Vatican News.
Ainda
assim, em seu desejo de ajudar Véronique a cumprir seu chamado, Madre Line
continuou seu trabalho. Como a Lei Canônica e as regras monásticas da época não
previam as irmãs com deficiências, elas tiveram muitos desafios.
A fundação da ordem
De
fato, a mini-comunidade começou em um pequeno apartamento, apenas com as duas
senhoras. Em 1990, eles receberam outra mulher que também tinha síndrome de
Down. Graças ao apoio do arcebispo de Tours, Jean Honoré – que mais tarde se
tornaria cardeal – foram reconhecidas como associação pública de fiéis leigos.
As
notícias da comunidade, no entanto, se espalharam e as religiosas deixaram o
pequeno apartamento e se mudaram para Le Blanc. Lá, foram calorosamente
recebidas pelo arcebispo da diocese, Pierre Plateau. Com sua ajuda em Roma, a
comunidade foi finalmente reconhecida como um instituto contemplativo.
A
partir daí a ordem cresceu. Vieram a construção de uma capela e de um convento.
Além disso, o Arcebispo Armand Maillard ofereceu mais apoio à comunidade e foi
fundamental para ajudar as irmãs a finalmente obterem o reconhecimento
definitivo de seus estatutos em 2011.
Síndrome de Down e vida contemplativa
No
momento, há 10 irmãs nesta comunidade e 8 têm síndrome de Down. As mulheres
estão prosperando, pois a vida contemplativa passa a ser benéfica para as
religiosas. “A vida contemplativa permite que elas vivam no seu próprio ritmo.
Para as pessoas com síndrome de Down, as mudanças são difíceis, mas quando a
vida é muito regular, elas administram bem”, explica a Madre Line.
Com
oficinas de olaria, tecelagem, criação de uma horta medicinal e missa semanal,
a vida contemplativa das irmãs centra-se na humildade ordinária do quotidiano.
No entanto, dentro das paredes da comunidade estão algumas mulheres
extraordinárias, como expressa Ir. Véronique: “Trinta e quatro anos se passaram
desde que ouvi o chamado de Jesus. Tentei conhecer Jesus lendo a Bíblia e o
Evangelho. Eu nasci com uma deficiência chamada síndrome de Down. Eu sou feliz.
Amo a vida. Eu rezo, mas fico triste pelas crianças com síndrome de Down que
não sentirão essa mesma alegria de viver. Para quem se sentiu chamado a viver,
como Santa Teresa, a vocação ao amor, o caminho foi longo, mas a sua paciência
e a sua fé deram frutos. Jesus me fez crescer em Seu amor.””
Em
2009, anos depois de sua vocação inicial, Ir. Véronique teve a alegria de fazer
os votos perpétuos de ser noiva de Cristo.
Madre
Line lembra que outras mulheres com síndrome de Down que sentiram o chamado
para ingressar na vida religiosa passam pelo mesmo período de discernimento que
em qualquer outra ordem. Como outras religiosas, ela afirma que essas mulheres
ainda apreciam se sua vocação é autêntica ou não neste período.
Relacionamento com Cristo
Madre
Line acredita, de fato, que não é apenas uma questão de essas mulheres terem
síndrome de Down que as torna diferentes: elas têm um relacionamento
particularmente próximo com Cristo. “Elas conhecem a Bíblia, a vida dos santos
e têm uma memória fabulosa. São almas de oração, são muito espirituais, muito
próximas de Jesus”, conta. “Suas almas não são deficientes! Pelo contrário,
estão mais próximas do Senhor, comunicam-se com Ele com mais facilidade. As
outras irmãs da comunidade admiram a capacidade que elas têm de perdoar, de
encorajar suas irmãs através da frase certa na Bíblia que ajuda a dar sentido ao
dia”, revelou a superiora.
Se
você quiser saber mais sobre as irmãs, clique aqui e
acesse o artigo original de Cyprien Viet para o Vatican News.
Créditos: ALETEIA
Carlos Aguiar Gomes
P. Tiago Freitas
Fernando Pinheiro
Artur Soares
António Sílvio Couto (Pe)
António Sílvio Couto (Pe)