
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
“O pequeno
tem apenas 40 dias, e os seus pais, de Belém, deslocam-se para a vizinha Jerusalém,
«para fazer aquilo que a Lei prescrevia a seu respeito».
O mesmo
evangelista reporta explicitamente a dois textos bíblicos: o primeiro respeitante
ao resgate do primogénito, que pela lei era consagrado e destinado a Deus
(Êxodo 13, 2); o segundo que determina o sacrifício animal para a readmissão
plena da mãe na comunidade, depois do período de “impureza” sacral ligado ao
parto (Levítico 12, 8).
Imaginemos,
assim, esta pequena família que entra nos espaços faustosos do templo erigido
por Herodes a partir de 19 a.C. Maria dirige-se para o átrio reservado às
mulheres, diante da denominada “Porta de Nicanor”, do nome do benfeitor, um
judeu da diáspora de Alexandria do Egito, que a tinha feito edificar e ornar.
Como matéria
sacrificial eram prescritos um cordeiro e uma pomba; para os pobres suspendia-se
a oferta do cordeiro, demasiado caro, substituindo-o com um casal de rolas ou
pombas. E é isso que pode oferecer o modesto casal Maria e José. Termina aqui
o ato ritual. Mas a narração tem uma reviravolta com a entrada em cena de duas
figuras judaicas deveras inesperadas, nas quais Lucas encarna simbolicamente a
expetativa do Israel fiel.
O primeiro
personagem é «um homem justo e temente a Deus» de nome Simeão, que entoa um
doce mini-salmo, tornado famoso pelo seu “incipit” na versão latina de S.
Jerónimo, “Nunc dimitis”, usado na liturgia católica como o hino das
Completas, a oração da noite. «Agora podes deixar que o teu servo vá em paz, segundo
a tua palavra, porque os meus olhos viram a tua salvação, preparada por ti
diante a todos os povos: luz para te revelares aos gentios e glória do teu
povo, Israel» (2, 29-32).
O romancista
vitoriano Anthony Trollope põe nos lábios do protagonista de “The warden” (“O
guardião”), o eclesiástico e violoncelista Mr. Harding, chegado ao final da
vida, precisamente as palavras de Simeão, enquanto se abandona «à loucura dos
seus velhos dedos», extraindo das cordas do seu instrumento «uma lamentação
baixíssima, de breve duração, a intervalos».
O “Nunc
dimittis” (Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o
vosso servo) é, na realidade, um hino festivo de esperança concretizada,
entoado enquanto Simeão aperta entre os braços o recém-nascido Jesus.
Logo depois,
porém, a voz deste ideal profeta judeu, cristão “ante litteram” aos olhos do
evangelista, muda de registo e torna-se sombrio, ao emitir um oráculo severo
dirigido a Maria: «Eis que Ele [Jesus] está aqui para a queda e ressurreição de
muitos em Israel e como sinal de contradição – e também a ti uma espada
trespassará a alma –, para que sejam desvelados os pensamentos de muitos corações
(2, 34-35).
Lucas,
nestas palavras, vê antecipado o destino de Cristo, «sinal de contradição»,
como, em adulto, o próprio Jesus declarará: «Pensais que vim para trazer a paz
à Terra? Não, digo-vos, mas a divisão!» (12, 51).
A partir do
século XVI, o símbolo da espada que trespassa a alma da mãe tornar-se-á a base
par a estatuária mariana da “Mater dolorosa”, com as sete espadas sobre o
peito, sinal de plenitude no sofrimento.
Mas, depois
da tenebrosa profecia de Simeão, aparece a outra figura a que acenávamos: é
uma terna e serena velhinha de 84 anos, Ana, de quem se oferece também o
bilhete de identidade (filha de Fanuel e da tribo setentrional de Asher). A sua
presença constante e orante no templo, como acontece ainda hoje a muitos fiéis
idosos, é semelhante a um sorriso, enquanto «louvava Deus e falava do menino a
quantos esperavam a redenção de Jerusalém» (2, 38).
Cai o pano
sobre o pequeno judeu Jesus, e Lucas anota que «o menino crescia e
fortificava-se, pleno de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre Ele» (2,
40)”.
(Card. Gianfranco Ravasi, in Secretariado Nacional
da Pastoral da Cultura).

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