«DEUS PROCURA A NOSSA VIDA IMPERFEITA»

4 de Fevereiro de 2024

“No início da vida pública, Jesus atravessa os lugares onde mais fortemente pulsa a vida: o traba­lho (barcos, redes, lago), a oração e as assembleias (a sinagoga), os lugares dos sentimentos e da afe­tividade (a casa de Simão).

Jesus, libertado um homem do seu espírito doente, sai da sinagoga, e logo, como que acossado por algo, entra em casa de Simão e André, onde «logo» (bela a ur­gência, a pressão dos afetos) lhe falam da sogra com febre.

Hóspede inesperado, numa casa onde a responsável pelo servir está doente, e o ambiente não está pronto, não foi preparado no seu melhor, provavelmente está em desordem. Grande mestre, Jesus, que não se preocupa com o desarranjo, com o que de impreparado existe dentro de nós, da sujidade, do ar um tanto ou quanto fechado das nossas vidas.

E também ela, a mulher idosa, doente e febril, não se enver­gonha de deixar-se ver por um estranho: Ele veio precisamente para os doentes.

Jesus toma-a pela mão, reergue -a, “ressuscita-a”, e aquela casa da vida bloqueada reanima-se, e a mulher, sem reservar tempo para si, sem dizer «preciso de um instante, tenho de me arranjar, recuperar», põe-se a servir, com o verbo dos anjos no deserto.

Estamos habituados a pensar a nossa vida espiritual como em algo que se desenrola nos quar­tos bem arranjados, e nós bem vestidos e compostos diante de Deus. Acreditamos que a reali­dade da vida nos outros quartos, essa existência banal, quotidia­na, acidentada, não é apropria­da para Deus. E enganamo-nos: Deus enamora-se da normalida­de. Procura a nossa vida imperfei­ta para tornar-se fermento e sal, e mão que volta a erguer.

Esta narrativa de um milagre hu­milde, não vistoso, sem comentários da parte de Jesus, inspira-nos a acreditar que o limite humano é o espaço de Deus, o lugar onde aterra o seu poder.

O que se segue é energia: a casa abre-se, melhor, expande-se, torna-se grande ao ponto de po­der acolher, à noite, no limiar da porta, todos os doentes de Cafar­naum. Toda a cidade está reunida no umbral entre a casa e a estra­da, entre a casa e a praça.

Jesus, pólen de gestos e de pa­lavras, que ama portas abertas e tetos escancarados por onde entram olhos e estrelas, que ama o risco da dor, do amor, do viver, cura-os. Quando ainda estava escuro, sai em segredo e reza. Simão persegue-o, procura-o, encontra -o: «Que fazes aqui? Desfrutemos do sucesso, Cafarnaum está aos teus pés!».

E Jesus começa a destruir as ex­petativas de Pedro, as nossas ilusões: vamos para outro lugar. Um outro lugar que não sabemos; apenas sei que não cheguei, que não posso acomodar-me; um “outro” que a cada dia me seduz e amedronta, mas ao qual volto a confiar, diariamente, a esperança”.

Ermes Ronchi, in SNPC.

Publicado em 2024-02-13

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