«LOUCURA DE AMOR»

17 de Março de 2024

“A palavra espantosa que Jesus hoje diz no Evangelho é uma palavra que nós nunca acaba­remos de meditar e de colher o seu significado profundo: “Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim.” E diz o evangelista S. João que Jesus falava da forma como havia de morrer.

Claramente, quando Ele for le­vantado da Cruz, atrairá todos a Ele. Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim.” E diz o evangelista S. João que Jesus falava da forma como havia de morrer. Claramente, quando Ele for levantado da Cruz, atrairá todos a Ele.

É interessante o verbo que Jesus utiliza: o verbo atrair. Porque o verbo atrair é um verbo de uma grande ambiguidade de sentidos, de uma grande abertura se­mântica. Atrair é uma coisa que nós ligamos ao desejo, ao ero­tismo, ao coração, à beleza, não tanto à razão. Às vezes sentimo-nos atraídos pelo que vemos, sentimo-nos colados, sentimos que há coisas no nosso coração, há desejos, há expectativas no nosso coração que, de repente, estão ali presentes e sentimo-nos puxados, puxados para ali.

Então, este verbo – “Quando Eu for levantado da terra atrairei todos a mim” – quer dizer que a nossa relação com Jesus não é apenas uma relação racional, não é apenas esta compreensão que a grande ortodoxia nos faz dizer. Que Cristo é o Senhor, que Cristo é o Deus connosco, que Cristo é o Filho de Deus. Essas verdades do dogma sustentam a nossa fé. Mas não é apenas a arquitetura racional dos dog­mas que nós somos chamados a viver na relação com Jesus.

Nós somos chamados a viver uma relação para cá e para lá da própria racionalidade. Uma relação que é afetiva com o pró­prio Jesus. Sentindo que Ele nos emociona, que Ele nos toca, que Ele é também o inexplicado de Deus que vem ao nosso encon­tro. Que Ele, sem nós podermos explicar como, sem nós poder­mos dizer porquê, Ele realiza tudo, mas tudo o que nós que­remos da vida, que Nele nós vi­mos tudo aquilo que sonhamos.

É aquele poema tão belo da So­phia de Mello Breyner: “Vimos o lume aceso nos Seus olhos, e foi por o termos olhado que ficámos penetrados de força e de destino, Ele deu carne àquilo que sonhamos, e a nossa vida abriu-se iluminada pelas ima­gens de ouro que Ele viu.”

E, de facto, é esta relação vital que nós precisamos de cons­truir com a pessoa de Jesus. Isso não se faz sem abandono, sem silêncio, sem nos jogarmos – e a palavra é essa – sem nos jogarmos para os pés de Jesus. Sem nos atirarmos para os Seus pés.

Se estamos com as nossas reser­vas mentais, as nossas seguranças, a manter o nosso campo, se queremos manter a respeitabili­dade que cada um merece a si próprio, se cada um de nós quer manter apenas uma relação intelectual com a figura de Jesus, também é possível porque é uma figura absolutamente fas­cinante. Mas não é isso que nos é pedido. O que nos é pedido é que, por palavras, atiremos a nossa vida para os pés Dele, o que nos é pedido é que nos ajoelhemos em silêncio olhan­do para o Seu corpo, para o Seu rosto, para aquilo que, sem nenhuma palavra, apenas com o exemplo, Ele nos diz.

O importante é que cada um de nós se meta no meio na multidão, atrás Daquele que vai ser crucificado no Gólgota. O mais importante é que cada um de nós se sinta seu discípulo, discí­pula e que isso meta em perigo a nossa vida. Eu sou discípula, discípulo de um crucificado, de alguém que é um condenado. Mas é isso que me define.

O verbo que Jesus usa é um ver­bo poderoso – até pode parecer um bocado estranho, mas não: Jesus atrai-me, atrai-me no sentido que me enche de um amor, toca as cordas afetivas mais re­cônditas do meu ser. Faz-me es­tar com Ele, não tenho vontade de me distanciar, de me separar. E isso é um mistério da Cruz, é um mistério da Cruz.

Sem esta dimensão que chama­mos mística e cada cristão, cada cristã tem de viver, nós ainda estamos como os gregos que vieram ter com os discípulos a perguntar: “Senhor, faz-nos ver Jesus”

   (José Tolentino de Men­donça).

Publicado em 2024-03-20

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