
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
“A palavra espantosa que Jesus hoje diz no
Evangelho é uma palavra que nós nunca acabaremos de meditar e de colher o seu
significado profundo: “Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim.”
E diz o evangelista S. João que Jesus falava da forma como havia de morrer.
Claramente, quando Ele for levantado da Cruz,
atrairá todos a Ele. Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim.” E
diz o evangelista S. João que Jesus falava da forma como havia de morrer.
Claramente, quando Ele for levantado da Cruz, atrairá todos a Ele.
É interessante o verbo que Jesus utiliza: o verbo
atrair. Porque o verbo atrair é um verbo de uma grande ambiguidade de sentidos,
de uma grande abertura semântica. Atrair é uma coisa que nós ligamos ao
desejo, ao erotismo, ao coração, à beleza, não tanto à razão. Às vezes
sentimo-nos atraídos pelo que vemos, sentimo-nos colados, sentimos que há
coisas no nosso coração, há desejos, há expectativas no nosso coração que, de
repente, estão ali presentes e sentimo-nos puxados, puxados para ali.
Então, este verbo – “Quando Eu for levantado da
terra atrairei todos a mim” – quer dizer que a nossa relação com Jesus não é
apenas uma relação racional, não é apenas esta compreensão que a grande
ortodoxia nos faz dizer. Que Cristo é o Senhor, que Cristo é o Deus connosco,
que Cristo é o Filho de Deus. Essas verdades do dogma sustentam a nossa fé. Mas
não é apenas a arquitetura racional dos dogmas que nós somos chamados a viver
na relação com Jesus.
Nós somos chamados a viver uma relação para cá e
para lá da própria racionalidade. Uma relação que é afetiva com o próprio
Jesus. Sentindo que Ele nos emociona, que Ele nos toca, que Ele é também o
inexplicado de Deus que vem ao nosso encontro. Que Ele, sem nós podermos
explicar como, sem nós podermos dizer porquê, Ele realiza tudo, mas tudo o que
nós queremos da vida, que Nele nós vimos tudo aquilo que sonhamos.
É aquele poema tão belo da Sophia de Mello
Breyner: “Vimos o lume aceso nos Seus olhos, e foi por o termos olhado que
ficámos penetrados de força e de destino, Ele deu carne àquilo que sonhamos, e
a nossa vida abriu-se iluminada pelas imagens de ouro que Ele viu.”
E, de facto, é esta relação vital que nós
precisamos de construir com a pessoa de Jesus. Isso não se faz sem abandono,
sem silêncio, sem nos jogarmos – e a palavra é essa – sem nos jogarmos para os
pés de Jesus. Sem nos atirarmos para os Seus pés.
Se estamos com as nossas reservas mentais, as
nossas seguranças, a manter o nosso campo, se queremos manter a respeitabilidade
que cada um merece a si próprio, se cada um de nós quer manter apenas uma
relação intelectual com a figura de Jesus, também é possível porque é uma
figura absolutamente fascinante. Mas não é isso que nos é pedido. O que nos é
pedido é que, por palavras, atiremos a nossa vida para os pés Dele, o que nos é
pedido é que nos ajoelhemos em silêncio olhando para o Seu corpo, para o Seu
rosto, para aquilo que, sem nenhuma palavra, apenas com o exemplo, Ele nos diz.
O importante é que cada um de nós se meta no meio
na multidão, atrás Daquele que vai ser crucificado no Gólgota. O mais
importante é que cada um de nós se sinta seu discípulo, discípula e que isso
meta em perigo a nossa vida. Eu sou discípula, discípulo de um crucificado, de
alguém que é um condenado. Mas é isso que me define.
O verbo que Jesus usa é um verbo poderoso – até
pode parecer um bocado estranho, mas não: Jesus atrai-me, atrai-me no sentido
que me enche de um amor, toca as cordas afetivas mais recônditas do meu ser.
Faz-me estar com Ele, não tenho vontade de me distanciar, de me separar. E
isso é um mistério da Cruz, é um mistério da Cruz.
Sem esta dimensão que chamamos
mística e cada cristão, cada cristã tem de viver, nós ainda estamos como os
gregos que vieram ter com os discípulos a perguntar: “Senhor, faz-nos ver
Jesus”
(José Tolentino de Mendonça).

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