
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
«Na plenitude da alegria pascal, exultam os homens
por toda a terra…»: durante os cinquenta dias entre a vigília pascal e o Pentecostes,
o prefácio da oração eucarística da missa convida-nos diariamente a viver a
alegria da ressurreição.
Uma alegria universal que deveria envolver toda a
humanidade. «Alegrai-vos e exultai», exortava-nos o papa Francisco há três
anos, ao citar as palavras de Jesus dirigidas «a quantos são perseguidos ou
humilhados por causa dele» (“Gaudete et exsultate”, 1). Toda a liturgia é um
convite constante a fazer festa: do “Exsultet” da grande vigília ao canto do
“Regina coeli (Raínha dos céus)”.
Podemos perguntar-nos se em tudo isto não há
retórica a mais. O que é esta «plenitude da alegria que canta o prefácio? Quanta
alegria é possível verdadeiramente experimentar «neste vale de lágrimas»? Qual
é a felicidade a que podemos realisticamente aspirar nas contradições da vida?
A humanidade que deveria exultar sobre toda a
Terra continua ferida e sofredora. As catástrofes naturais continuam a
acontecer, e para populações inteiras as carestias não são uma recordação do
passado. As guerras recomeçam sempre, apesar do empenho de muitos
construtores de paz. Os acidentes nas estradas acontecem e os casamentos falham.
O mal não cessa de morder a carne dos mais frágeis, nas formas mais diversas,
mas também não poupa ricos e poderosos. É possível, é lícito a alegria nestas
condições? Não se trata de uma alegria falsa, forçada, ou que no máximo abrange
apenas poucos momentos da vida ou um restrito número de afortunados?
A alegria cristã existe, e é autêntica. Precisamos
dela precisamente para enfrentar os compromissos e os cansaços da vida, como
ensinava às suas irmãs Santa Teresa de Calcutá. Mas não é uma alegria
excessiva, impudente, agressiva. Não solicita manifestações eufóricas e
intemperantes.
Manifesta-se na luz dos olhos, mas brota e
permanece no íntimo. É alegria incontida, mas moderada. É inebriamento sóbrio
e espiritual. É uma felicidade visível, mas nunca ostentada. Não suscita a
inveja dos sofredores: antes, consola-os e contagia-os. A alegria cristã não é
cega diante das dores da vida. Não é otimismo obstinado e obtuso, nem
voluntária autoilusão. Não se contenta com um pensamento cor-de-rosa perante o
persistente mal de viver.
Nos anos da pandemia ouvimos repetir, como um
mantra, «correrá tudo bem», e nas redes sociais partilhavam-se fotografias
coloridas e tolas. Tentativas miseramente fracassadas de exorcizar o medo.
Não correu tudo bem. Muitas pessoas adoeceram e muitas morreram. Muitíssimas
sofreram pesadíssimos danos económicos. E ainda não acabou. Os males do mundo
não são apenas a pandemia.
Contudo, tudo isto não prejudica a verdadeira
alegria cristã. Podemos, devemos, continuar a entoar o aleluia pascal. Porque,
como cantava Leonard Cohen, «love is not a victory march: it’s a cold and it’s
a broken “Halleluja”» (O amor não é uma marcha de vitória. è um frio e
quebrado). A exultação pascal é filha do amor, e o amor, quando verdadeiro,
não é uma marcha triunfal. Ainda não, por agora.
O amor é empastado de felicidade e de sacrifício,
em simultâneo, incindivelmente. O tempo da História é ainda o tempo de um
aleluia muitas vezes «frio e despedaçado».
Um aleluia firmemente desejado, consciente, ferido
pelas provações da vida, e todavia pleno de confiança, porque animado por uma
esperança invencível. Porque é um fio estendido entre a certeza histórica da
ressurreição de Jesus e a espera escatológica da nossa ressurreição. A alegria
cristã radica-se no “já” do acontecimento pascal – o túmulo vazio – e
estende-se até ao «não ainda» das bodas do Cordeiro. Aquele túmulo vazio é
profecia da Jerusalém celeste, quando finalmente «all shall will be well, and
all manner of thing shal be well» (tudo ficará bem, e todas as coisas
ficarão bem), como Juliana de Norwich ouviu dizer-lhe do Senhor Jesus.
Sim, ainda não
está tudo bem, mas a alegria cristã não é um sonho para gente iludida. Estamos
nas mãos de Deus. Sempre. «Alegra-se o meu coração e exulta a minha alma: (…)
porque não abandonarás a minha vida nos infernos…» (Salmo 15). Eis a fonte da
verdadeira alegria pascal, a viver em plenitude. Esta certeza de fé torna
possível e lícito cantar o aleluia também nos claros-escuros do presente.
Melhor: não só é lícito, como é «nosso dever, é nossa salvação».
(Filippo Morlacchi, in Secretariado Nacional da
Pastoral da Cultura).

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