«TOCAR AS FERIDAS: ENCONTROS QUE MUDAM A VIDA»

7 de Abril de 2024

“O apóstolo S. Tomé é importan­te para a comunidade de fé, por­que as suas dúvidas conduziram a uma explicação mais aprofun­dada da natureza da fé. Quantos crentes não profeririam a mesma declaração que Tomé afirmou quando os outros discípulos lhe disseram que tinham visto Jesus ressuscitado? Todos nós quere­mos provas, e a ousadia da exi­gência de Tomé aponta para o coração da questão: Cristo ressus­citado era, realmente, a mesma pessoa que o morto, crucificado, Jesus?

O Evangelho de João é o mais distante dos acontecimentos da crucificação e das aparições após a Páscoa. João é também o mais teológico dos Evangelhos, por isso é natural que as nossas per­guntas busquem uma resposta definitiva sobre a verdade mais central da nossa fé. Mas uma lei­tura cuidadosa dos quatro Evan­gelhos mostra que os autores, e as comunidades de fé para quem escreveram, preservaram um es­paço de mistério em torno de Jesus crucificado e ressuscitado. Os discípulos encontraram um Ser divino transformado, não um cadáver ressuscitado. Reconhece­ram o seu amigo e mestre, Jesus de Nazaré, mas Ele era agora o seu Senhor na glória.

A fé pascal [morte e ressurreição] requer um movimento gracioso do Jesus da história para o Cris­to em glória, o Filho de Deus. A história de Tomé testemunha essa transição. Ele deslocou-se da busca de provas físicas para uma teofania que o deixou de joelhos em adoração. Ele queria “ver” com os seus olhos humanos, mas, em vez disso, a sua mente e seu cora­ção foram abertos a um mistério que somente os crentes podem apreender. Todas as narrativas de aparições nos Evangelhos são mais do que comprovação de fac­tos; são encontros que mudam a vida com um mistério que trans­cende tempo e espaço.

O grande S. Tomás de Aquino des­creveu a busca de Deus como a fé que busca o entendimento, em vez de o entendimento em busca da fé. O dom da fé vem primeiro, porque nenhuma percentagem de razão pode revelar a face do Cristo vivo, o Jesus crucificado e ressuscitado como o nosso encontro pessoal com Deus. Tomé ajuda-nos a compreender que a nossa fé é um relacionamento vivo com Jesus, e não um proble­ma a ser resolvido. A vida cristã não é um programa a ser domina­do, mas um mistério sem fim que nos guiará através desta vida para uma eternidade de descoberta e alegria”

(Pat Marrin)


“Jesus aproxima-se de Tomé e mostra-lhe as suas chagas: vê, o sofrimento que – seja ele qual for – não se apagou nem foi esquecido! As feridas permanecem feridas. Mas aquele que «tomou sobre si as nossas doenças» trans­pôs também, na obediência, as portas do inferno e da morte, e doravante (in compreensivelmente) está aqui connosco. Mos­trou-nos assim que «o amor tudo suporta»; que «nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir», porque «forte como a morte é o amor» – e até mais forte do que ela.

O amor, à luz deste evento, surge como um valor que não devemos remeter para a esfera do senti­mentalismo; indica uma força – a única força que sobrevive à pró­pria morte e que, com as mãos trespassadas, arromba as suas portas.

A ressurreição não é, pois, ne­nhum «happy-end», mas um con­vite e um desafio: não devemos e não podemos capitular perante o fogo do sofrimento, mesmo se agora não conseguimos extin­gui-lo. Frente ao mal, não pode­mos comportar-nos como se a última palavra houvesse de lhe pertencer. Não tenhamos medo «de acreditar no amor», mesmo onde, segundo todos os critérios do mundo, ele perde. Tenhamos a coragem de apostar na loucura da cruz contra «a sabedoria deste mundo»!

Talvez Jesus, ao reacender a fé de Tomé pelo toque nas chagas, te­nha querido que ele dissesse jus­tamente o que para mim: Onde tu tocares no sofrimento humano– e talvez só aí! – ficas a saber que eu estou vivo, que «Eu sou». En­contras-me por toda a parte onde os homens sofrem. Não fujas de mim em nenhum destes encon­tros. Não tenhas medo! Não sejas incrédulo, mas crê!

Deus, o Senhor da Antiga Alian­ça, apareceu a Moisés na sarça-ardente; o seu Filho unigénito, nosso Senhor e Deus, aparece no fogo do sofrimento, na cruz; e só entendemos a sua voz, quando tomamos sobre nós a nossa cruz e estamos preparados também para carregar com o fardo dos outros; só então as cicatrizes do mundo – as suas cicatrizes – se tornam para nós uma interpelação”.

(Tomás Halík, in O meu Deus é um Deus ferido)

Publicado em 2024-04-06

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