«O MAIOR PERIGO É NÃO AMAR»

5 de Maio de 2024

“As pessoas podem desenvol­ver algumas atitudes que apresentam como valores morais: fortaleza, sobriedade, laboriosidade e outras virtudes. Mas, para orientar adequadamente os atos das várias virtudes mo­rais, é necessário considerar também a medida em que eles realizam um dinamismo de abertura e união para com ou­tras pessoas. Este dinamismo é a caridade, que Deus infunde.

Caso contrário, talvez tenha­mos só uma aparência de vir­tudes, que serão incapazes de construir a vida em comum. Por isso, dizia São Tomás de Aquino – citando Santo Agostinho – que a temperança duma pes­soa avarenta nem sequer era virtuosa.[69] Com outras pala­vras, explicava São Boaventura que as restantes virtudes, sem a caridade, não cumprem estritamente os mandamentos «como Deus os compreende». A estatura espiritual duma vida humana é medida pelo amor, que constitui «o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade duma vida hu­mana».

Todavia há crentes que pen­sam que a sua grandeza está na imposição das suas ideo­logias aos outros, ou na de­fesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força. Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser coloca­do em risco, o maior perigo é não amar (cf. 1 Cor 13, 1-13). Procurando especificar em que consiste a experiência de amar, que Deus torna possível com a sua graça, São Tomás de Aquino explicava-a como um movimento que centra a atenção no outro «considerando-o como um só comigo mesmo».

A atenção afetiva prestada ao outro provoca uma orientação que leva a procurar o seu bem gratuitamente. Tudo isto parte duma estima, duma aprecia­ção que, em última análise, é o que está por detrás da pa­lavra «caridade»: o ser amado é «caro» para mim, ou seja, é estimado como de grande va­lor. E «do amor, pelo qual uma pessoa me agrada, depende que lhe dê algo grátis».

Sendo assim o amor implica algo mais do que uma série de ações benéficas. As ações deri­vam duma união que propen­de cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, dig­no, aprazível e bom, indepen­dentemente das aparências físicas ou morais. O amor ao outro por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aque­la amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos.

Enfim, o amor coloca-nos em tensão para a comunhão uni­versal. Ninguém amadurece nem alcança a sua plenitude, isolando-se. Pela sua própria dinâmica, o amor exige uma progressiva abertura, maior capacidade de acolher os ou­tros, numa aventura sem fim, que faz convergir todas as periferias rumo a um sentido pleno de mútua pertença. Disse-nos Jesus: «Vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8).

Esta necessidade de ir além dos próprios limites vale tam­bém para as diferentes regiões e países. De facto, «o número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da uni­dade e partilha dum destino comum entre as nações da ter­ra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros»

Há um aspeto da abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial: a capacidade diária de alargar o meu círculo, chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mun­do de interesses, embora se encontrem perto de mim. Por outro lado, cada irmã ou cada irmão que sofre, abandonado ou ignorado pela minha socie­dade, é um forasteiro existen­cial, embora tenha nascido no mesmo país. Pode ser um cida­dão com todos os documen­tos em ordem, mas fazem-no sentir como um estrangeiro na sua própria terra. O racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dis­simula-se mas está sempre à espreita.

(Papa Francisco, Encí­clica Fratelli tutti, 91 - 95

Publicado em 2024-05-05

Notícias relacionadas

SEMANA SANTA E GRANDE!

13 de abril de 2025

«O TEMPO DA SALVAÇÃO É HOJE»

26 de janeiro de 2025

«FAZEI O QUE ELE VOS DIZ E SERVI A TODOS O AMOR DE DEUS»

19 de janeiro de 2025

«JESUS SEGUIU O CAMINHO QUE DEUS LHE APONTAVA»

12 de Janeiro de 2025

«OUSAR TOMAR UMA POSIÇÃO»

22 de Setembro de 2024

«OUSAR TOMAR UMA POSIÇÃO»

15 de Setembro de 2024

desenvolvido por aznegocios.pt