«FIDELIDADE AOS ENSINAMENTOS DE JESUS»

2 de Junho de 2024

“No centro do anúncio da Igre­ja está o exemplo do Filho de Deus, que «sendo de condição divina se tornou semelhante a nós».

Este movimento de descida da divindade é expressão do amor infinito de Deus que, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem para que o homem «recuperasse a semelhança perdida pelo pecado».

A estratégia divina parece ser claramente da diluição da bar­reira entre o sagrado e o pro­fano, entre o mundo e o reino de Deus (pelo menos é-nos difícil estabelecer essa fronteira), uma estratégia válida, já que o mundo, o barro de que nos fala S. Paulo, é de um valor incom­paravelmente inferior ao te­souro que ele transporta, mas ainda assim indispensável para que o precioso conteúdo seja transportado.

O tesouro de Deus é, portanto, formatado por esta matéria ca­duca, variável consoante a cir­cunstância histórica, mas não se torna refém dela.

Dito de outro modo, no mis­tério da encarnação a Palavra incriada tornou-se também uma forma, uma figura, um rosto, uma expressão humana limitada no tempo - o tempo está em si mesmo em inexo­rável decomposição, é neces­sário como o ritmo na música, como estrutura organizadora de uma melodia -, mas não se tornou escravo dessa figura nem desse rosto.

É corajosa a releitura que Je­sus faz da lei que obrigava a respeitar escrupulosamente o descanso sabático («O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é tam­bém Senhor do sábado»).

Lei, variação da matéria anima­da por um espírito, datada de um tempo e um lugar que, fora de contexto, uma vez absolu­tizada, torna-se arma de arremesso, e não estrutura poten­ciadora do crescimento de um sujeito, individual ou coletivo.

É comum a tendência para di­vinizar a lei ou a linguagem própria de um tempo.

Como todos os grupos, tam­bém na comunidade crente, por vezes, por detrás de um sorriso sereno, mantém-se o debate aceso sobre certos te­mas, persiste a discussão sobre questões morais, expressões litúrgicas, orientações discipli­nares, entre outras, que, con­venhamos, foram desenhadas num contexto e continuam a condicionar as novas formas de dizer a Boa Nova.

A verdade é que esta lingua­gem tornou-se um enigma para os homens de hoje. «Não se entende», dizem. «Estes princípios não fazem sentido», confidenciam-me. «É imprati­cável esta disciplina», repetem.

Não, não podemos dizer que é a lei de Deus que está em cau­sa, mas uma expressão do es­pírito da lei que persiste muito para além do seu prazo de va­lidade.

«A lei de Deus é a mesma», protestava zangada uma boa senhora, só porque a missa ti­nha deixado de ser em latim.

A lei de Deus?

O risco da absolutização da lei é evidente: a catalogação entre os bons cristãos, os apa­rentemente cumpridores, e os fracos, os de segunda categoria, os que deslizam natural­mente para o patamar de «não praticantes», os que vivem na periferia.

O Senhor chamou-nos amigos e não servos, isto é, escravos da lei. Procuremos ser fiéis aos seus ensinamentos.

Amigo significa ter a coragem e a liberdade para repensar e repor novas formas de recon­figuração do espírito da lei, obedecendo à pedagogia di­vina, que continuamente nos inspira a propor a mensagem do Mestre.

Afastarmo-nos dos ensina­mentos é um passo para o confronto com a dramática bifurcação entre o legalismo frio e estéril e o agnosticismo prático.

Não, não nos afastemos do espírito dos ensinamentos de Jesus” .

(Nélio Pita, CM, in Secretariado Nacional da Pastoral da Cultu­ra).

Publicado em 2024-06-01

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