
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
“No tema
«irmãos de Jesus» importa reter que os escritos do Novo Testamento não são
documentos de historiografia mas catequeses da fé cristã que visavam ilustrar e
promover a fé. E os dados por eles oferecidos pedem interpretação, que também
depende da perspectiva hermenêutica e das preocupações epistemológicas do
intérprete. A Bíblia diz que Jesus tinha irmãos. Mas uma coisa é o que a Bíblia
diz; outra coisa é o que a Bíblia queria dizer. E no «queria
dizer» é que está o decisivo; ficar só com o que a Bíblia diz pode desandar em
literalismo ou desfigurar o significado das suas narrações.
O hebraico e
o aramaico – para sugerir ou afirmar consanguinidade e afinidade – por razões
antropológicas e não por pobreza da língua usavam um mesmo termo para vários
graus de parentesco. De facto, essas duas línguas semíticas dizem irmão com a
palavra ’āh e não têm outra específica para dizer primo-irmão, parente,
consanguíneo, em vários graus: é ela que tem esse significado amplo.
Uma vez que
– sem nenhuma pretensão apologética – a palavra grega adelfós aplicada
aos ditos “irmãos” de Jesus tem também o sentido de primo-irmão ou de parente
próximo, por muito que alguém a queira entender aí com o possível significado
de irmão carnal do mesmo pai e da mesma mãe, nunca o poderá asseverar como
doutrina definitiva
Quanto à
designação de Jesus como “filho primogénito” de Maria (Lc 2,7), ela não implica
que a mãe tivesse tido posteriormente outros filhos. A expressão era, na
cultura hebraica, a designação técnica/legal do primeiro filho, ao qual se
associavam direitos e deveres: mesmo que fosse único, dizia-se «primogénito» e
não «unigénito».
Havendo na
Bíblia grandes linhas com uma poderosa mensagem humana, social e espiritual – o
humanismo da mensagem de Jesus, o perfume da sua palavra, a sua preocupação
pela felicidade humana, o cuidado pelos pobres, doentes e aflitos, a
influência da sua mensagem na transformação da sociedade para o bem, etc. –, o
renovado interesse mediático pelo tema dos «irmãos de Jesus» tem o mérito de
reforçar a sua humanidade e o realismo histórico da Encarnação do filho de
Deus na pessoa dele, que viveu no seio de uma família estruturada.
Interessante
é notar que o autor da carta aos Hebreus – com a intenção de mostrar à fé que
o filho de Deus, para dar o sentido último à vida humana, assumiu todas as
suas limitações (porque só salvaria aquilo que assumisse) – escreveu: Jesus
“teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar
sumo-sacerdote misericordioso, ao mesmo tempo que acreditado junto de Deus
para apagar os pecados do povo” (2,17).
Esta relação
com «os seus irmãos» exprime a solidariedade de Jesus com eles e a
transformação qualitativa e essencial deles perante os outros e perante Deus.
Jesus apelou à construção de uma fraternidade universal (veja-se Fratelli
tutti, do Papa Francisco), assente na elevada dignidade do ser humano,
inteiramente compartilhada e mais elevada por ele.
Propôs
dilatar o sentido da família, deixando entender que o novo que ele preconiza
não cabe na biologia, na física e nos laços de sangue mas se alarga na adesão
aos valores da sua boa nova: “Disseram-lhe: «A tua mãe, os teus irmãos e as
tuas irmãs estão lá fora à tua procura». Mas ele, em resposta, disse-lhes:
«Quem é a minha mãe e os meus irmãos?». E, olhando em redor para os que
estavam sentados em círculo à sua volta, disse: «Eis a minha mãe e os meus
irmãos! Pois aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã
e minha mãe»” (Mc 3,32-35).
A visão do ser humano em relação fraterna com ele é ao mesmo tempo dom e tarefa, enquanto põe exigências à vida, ao amor, à atenção, e põe questões sobre o conteúdo último da existência”.
(Armindo dos Santos Vaz, in Secretariado Nacional da Pastoral da
Cultura)

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