«FÉ: ACOLHER DEUS QUE SE OFERECE NOS SEUS DONS»

7 de Julho de 2024

“Jesus provoca sempre um re­flexo de defesa, que nasce de uma forma subtil de medo, o medo de sermos postos em questão, de sairmos de nós mesmos para o seguirmos ver­dadeiramente.

Os seus concidadãos estão perplexos. Porquê? Sem dú­vida porque eles aceitam de bom grado que Deus esteja lá no alto, bem longe, inacessível. Que ele venha das suas terras. nasça numa das suas famílias, bem conhecida, eis o que não só surpreende como inquieta.

Temos de nos abrir à evidência da proximidade de Deus. Uma proximidade activa, que se di­rige a cada um de nós sob a forma de um apelo, o apelo da necessidade de amor dos nos­sos pais, mães, irmãs, irmãos e de todos os que encontramos. Pensamos que os conhecemos bem; na verdade, temos que nos abrir ao seu mistério. Só então veremos neles a presen­ça de Deus.

Começou a ensinar

Tudo o que Cristo faz ajuda-nos a responder a uma ques­tão primordial: como é Deus? Primordial porque, para nós, existir consiste em sermos se­melhantes a ele. Nesta passa­gem, vemos que Jesus se di­rige aos outros, em cada uma das margens, e fala-lhes. O tex­to diz: “ensinar”. Imitá-lo nes­ta situação pode parecer-nos muito pretensioso. Digamos que ensinar significa aqui re­velar-nos a nós mesmos, fazer saber aos que encontramos quem somos e em que é que acreditamos – a nossa verdade.

Aprendemos que Deus é des­locamento para nós e comuni­cação de si. É por isso que Je­sus poderá dizer em João 14,6 que ele é a verdade. Verdade de Deus, que se revela revela­ção de si mesmo. Palavra, por­tanto.

É por isso que no princípio de tudo estava o Verbo. Uma pala­vra que é fecundidade, que faz existir o que diz. A partir daí, podemos compreender me­lhor o sentido das curas feitas por Jesus: elas dizem-nos que Deus é inimigo de tudo o que nos faz mal, daquilo que nos destrói. Não somente a sua Pa­lavra faz existir, mas também faz re-existir o que foi destruí­do: a Ressurreição é simbo­licamente antecipada pelas narrações destas curas “mira­culosas”. Ao comunicar-se a ele mesmo, Deus comunica-nos a vida. Eis então “como Deus é”. Mas não pensemos que não há nada a acrescentar: Deus é inesgotável e nós ainda não o vemos “tal como é”, nem Deus nem Cristo (1 João 3,1-2).

A impotência de Deus

Os compatriotas de Jesus es­tão chocados por ver neste ho­mem da sua terra a manifesta­ção do poder divino e do amor que nos funda e nos cura. Je­sus também fica chocado ao ver a falta de fé deles.

Como é que ele pode estar sur­preendido? Mas ele não sabe tudo? Pois é, parece que não: vemo-lo a aprender, a admirar-se, a emocionar-se. Será que Deus pode aprender alguma coisa do homem? Certamente, a começar por esta recusa, de que ele não tem qualquer ex­periência.

Diante de Jesus, somos ver­dadeiros companheiros, e a noção de Aliança já nos diz isso. Aqui, vemos Jesus, visi­bilidade do Deus invisível, re­duzido à sua impotência: “não pôde fazer ali milagre algum”. Compreendamos que não somos autores de nada de valio­so: tudo o que é bom vem de Deus, mas só nos podemos apropriar disso através da fé, isto é, mediante o acolhimen­to confiante dos dons que nos são oferecidos e, através deles, do próprio doador.

E no entanto, depois de nos ter dito que Jesus não pôde ali fazer nenhum milagre, Marcos acrescenta que ele curou al­guns doentes através da imposição das mãos. A partir daí, po­demos supor que a gratuidade do dom de Deus ultrapassa o nosso acolhimento na fé. Não ser reconhecido como “Filho de Deus” não impede Jesus de curar os homens, mesmo que ele seja considerado como um mero terapeuta. Ele retira-se e vai percorrer “as aldeias dos ar­redores, ensinando”. A palavra “ensinar” enquadra esta narra­tiva (versículos 2 e 6). Foi para isso que ele veio”.

P. Marcel Domergue, SJ, in Se­cretariado Nacional da Pastoral da Cultura).

Publicado em 2024-07-15

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