«COMO OVELHAS SEM PASTOR»

21 de Julho de 2024

“Precisamos de pessoas atentas à complexidade da realidade em que vivemos, pessoas não superficiais, que não se contentem com feli­cidades consoladoras e ilusórias. São estas pessoas que podem criar as condições para que a porta do nosso coração se abra espontanea­mente como pétalas de flores à luz da manhã, sem necessidade de ca­minhos transversais e furtivos para penetrar à força.

Pessoas que vão para além do or­ganizar, governar o número e a massa, interessadas em cada sin­gular ser humano.

«Uma das verdades fundamentais do cristianismo é que aquilo que salva é o olhar», dizia Simone Weil.

«Curá-los-ei com o amor» (Oseias 14,2-10): esta é a lei do coração de Deus, que, conhecendo o homem melhor que nós, apesar de tudo continua a amá-lo, sabendo que: «Não sabem o que fazem…», e que são «como ovelhas sem pastor…».

Devemos ter o coração daqueles que habitam o mundo, um mun­do que morre de miséria e de pe­sadume, e a que as palavras já não bastam: é precisa a coragem de «alguém que saia e plante a tenda do amor junto à do ódio» (Primo Mazzolari).

Devemos avizinhar-nos das pes­soas com esta extrema sensibilida­de, levando-lhes alegria, e não hu­milhação, a partilha, e não a ofensa dos benfeitores, cessando de gritar contra os vícios dos outros sem sus­peitar que talvez aquele homem não consiga ser diferente.

Dois textos da Sagrada Escritura di­zem-me para permanecer humilde e aberto. Uma vez, Josué, filho de Nun, que desde a sua juventude estava ao serviço de Moisés, vendo que o Espírito tinha pousado sobre duas pessoas que estavam fora da sua tenda, disse: «Senhor meu, im­pedi-os» (Números 11,28). Noutra ocasião, João responde a Jesus, dizendo: «Senhor, vimos alguém que expulsava os demónios em teu nome, e proibimo-lo, porque não era dos nossos». Josué e João, pre­cisamente eles, os mais próximos, tão fechados e egoístas como por vezes nós, da Igreja, que em vez de escutar o grito do homem, contro­lamos os documentos e fixamos as regras.

As pessoas procuram Deus na sua tribulação, choram, pedem ajuda, pedem felicidade e pão, salvação da doença, da culpa, da morte. Assim fazem todos, cristãos e pa­gãos, e Deus avizinha-se de todos os homens na sua tribulação, mor­re pelos cristãos e pelos pagãos e a todos perdoa.

O que torna mau o homem?

Para compreender o problema do mal, devem considerar-se as pes­soas como tendo sido intrujadas, vítimas de uma sedução que lhes faz acreditar que só assim podem ser felizes.Não por acaso, «a serpen­te era o mais astuto de tudo aquilo que tinha feito» (Génesis 3,1).

A Jesus vão os desesperados que, próximo a Ele, pensam poder reen­contrar o chão debaixo dos pés. No meio, entre os desesperados e Jesus, estão os habituais justos que nunca negligenciam uma regra. Nesta dissidência entre direito e desprezo, entre devoção e miséria, Jesus desejaria explicar a uma par­te os sentimentos da outra. Quan­do compreenderemos que aqueles que nós chamamos pecadores são sofredores, e que quem cai em des­graça não tem pai nem mãe?

«Não considereis a bondade uma pequena virtude», dizia o papa João.Diante do homem disperso de hoje é-nos pedido para fazer o que Isaías diz: «Consolai, conso­lai…», e além de consolar, «falar ao coração», e depois de ter falado ao coração, «gritai» aos ouvidos que não foi feito para a mediocridade, e ainda mais, depois de ter gritado «preparai-lhe o caminho no deser­to».

Não sabemos dar muitos passos para conduzir uma pessoa por um caminho espiritual profundo, tal­vez porque este caminho nem se­quer um de nós o está a fazer.

É-nos pedido ir à procura da ovelha perdida.

É-nos pedido de levar a vida por diante:

«Onde há ódio, eu leve amor…

onde há ofensa, o perdão…

onde há desespero, a alegria…».

É-nos pedido que não confunda­mos, também nós como os escribas e os fariseus, o pecado com o peca­dor. As pessoas não são pecado, as pessoas são medíocres, talvez fra­cas, não conseguem ser boas, mas não são pecado.

Acreditemos n’Aquele que tem a força de transformar um pecador em justo, um pescador em após­tolo, um cobrador de impostos em anunciador do Evangelho, um pa­ralítico em alguém que o segue.

É-nos pedido para acompanhar as vicissitudes espirituais e psíquicas de qualquer um nosso companhei­ro de peregrinação, de partir o pão da fraternidade com todos, com as mesmas palavras de Jesus: «Tomai e comei todos… este é o meu corpo, oferecido por vós e por todos».

Sim, precisamente para todos, conscientes que a mansidão e a misericórdia são as únicas virtudes que ampliaram os limites de cada comunidade” .

(Luigi Verdi, Rumo ao amor 4, in Se­cretariado Nacional da Pastoral da Cultura)

Publicado em 2024-07-24

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