
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
“A primeira pregação repete, de diversas
formas, que comer esse pão, agora identificado com o próprio Cristo, consiste
em crer nEle.
Crer e comer tornam-se sinónimos. Na
linguagem corrente, é comum falar-se de se ser alimentado por este ou aquele
autor, de devorar os seus livros; para exprimir uma recusa, podemos dizer: “Eu
não como desse pão”. A palavra recebida dos outros é alimento, dado que nos
constrói, faz-nos existir. Tudo o que em nós existe é uma elaboração do que
recebemos.
No capítulo 1 do livro do Génesis,
compreendemos que é a palavra de Deus que nos faz existir. Esta palavra
torna-se para nós sensível, audível, visível em Cristo (1 João 1,4). Crer
nEle, é crer em nós, porquanto nEle se encontra a verdade do nosso ser. NEle
reside a certeza da nossa incorruptibilidade. Assim, comer para viver é crer,
absorver aquele que o Pai nos envia e para quem nos atrai (v. 44).
O “pão do céu”
Crer em Cristo, alimentar-se de Cristo,
não é apenas uma adesão intelectual. Trata-se de fundar a nossa vida sobre
Ele, isto é, de fazer nossos os seus comportamentos ou, sobretudo, a sua
atitude fundamental, que dirige toda a sua vida, tudo o que Ele faz e tudo o
que Ele diz. Essa atitude resume-se numa frase: dar a vida. Só se guarda, só se
salva o que se dá.
A expressão “pão que desceu do céu”, que,
à primeira vista, nos deixa indiferentes, significa que não temos nada a ver
com a origem dessa atitude, que a aptidão para a dádiva de nós mesmos vem do
próprio Deus. É uma forma de dizer tudo o que é o Pai e tudo o que é o Filho.
Este Jesus é-nos dado e, dando-se, revela “como é Deus”.
Os interlocutores de Jesus indignam-se:
como é que este homem pode dizer que “desceu do céu” quando sabemos que Ele
vem da terra? Com efeito, conhecemos o seu pai e a sua mãe... Essas pessoas devem
aprender, tal como nós, que vir da terra e descer do céu não são
contraditórios.
O que produz a terra em Génesis 1 é o
fruto da palavra que vem de Deus. Todas essas coisas “incarnam” o Verbo, e
Cristo recapitula-as, conduzindo-as à sua última verdade. Não é Ele a “luz do
mundo”, plenitude daquela que foi dada em Génesis 1,3? É por isso que o pão da
terra anuncia e prepara o “pão do céu”. De tudo isto nasce a vida; a nossa vida
actual faz-se vida eterna, desde que aceitemos oferecê-la.
Quem é Jesus?
Eis a famosa questão da identidade.
Diante de Jesus e do que Ele faz, somos conduzidos a compreender e a crer, não
apenas que Ele “vem” de Deus, mas que Ele é presença de Deus.
A sua identidade profunda ultrapassa
infinitamente o que se sabe ou o que se crê saber dEle. Gerada a partir do
“ver”, da visão, a fé vai bem para além do que se constata. No limite, é mesmo
possível “crer sem ver” (João 20,29). No fim de contas, é assim que vivemos,
nós que cremos a partir do que ouvimos, a partir do testemunho dos apóstolos
transmitido de geração em geração.
Não pensemos que esta adesão à pessoa de
Cristo, esta caminhada com Ele, esta escolha de ser como Ele, necessitam de um
esforço penoso da nossa parte. Não somos nós que temos de “fabricar” a nossa
fé; “ninguém vem a mim se o Pai, que me enviou, não o atrai” (v. 44).
Mas atenção: temos o poder de ceder a
esta atracção ou de a recusar. Cabe a nós pronunciar o “sim” nupcial que nos
faz ser um com Cristo; uma só carne. Não esperemos ser possuídos por um
poderoso sentimento de crença: temos simplesmente de escolher acreditar,
imitar o “faça-se segundo a tua palavra” de Maria no dia da Anunciação.
A fé é abandono e aceitação face à
atracção de Deus. Esta atracção conduz-nos a Cristo, humanidade de Deus e divindade
do homem. E Cristo, não esqueçamos, entrega-se nas nossas mãos através de todos
os homens: “a mim mesmo o fizestes” (Mateus 25,40)”.
Marcel Domergue, in Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

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