«JESUS, O PÃO DO CÉU E DA TERRA»

11 de Agosto de 2024

A primeira pregação repete, de diversas formas, que comer esse pão, agora identificado com o próprio Cristo, consiste em crer nEle.

Crer e comer tornam-se sinó­nimos. Na linguagem corren­te, é comum falar-se de se ser alimentado por este ou aque­le autor, de devorar os seus li­vros; para exprimir uma recusa, podemos dizer: “eu não como desse pão”.

A palavra recebida dos ou­tros é alimento, dado que nos constrói, faz-nos existir. Tudo o que em nós existe é uma ela­boração do que recebemos. No capítulo 1 do livro do Gé­nesis, compreendemos que é a palavra de Deus que nos faz existir. Esta palavra torna-se para nós sensível, audível, visí­vel em Cristo (1 João 1,4). Crer nEle, é crer em nós, porquanto nEle se encontra a verdade do nosso ser. N’Ele reside a certe­za da nossa incorruptibilidade. Assim, comer para viver é crer, absorver aquele que o Pai nos envia e para quem nos atrai (v. 44).

“O “pão do céu”

Crer em Cristo, alimentar-se de Cristo, não é apenas uma adesão intelectual. Trata-se de fundar a nossa vida sobre Ele, isto é, de fazer nossos os seus comportamentos ou, sobretu­do, a sua atitude fundamen­tal, que dirige toda a sua vida, tudo o que Ele faz e tudo o que Ele diz. Essa atitude resume-se numa frase: dar a vida. Só se guarda, só se salva o que se dá. A expressão “pão que desceu do céu”, que, à primeira vista, nos deixa indiferentes, significa que não temos nada a ver com a origem dessa atitude, que a aptidão para a dádiva de nós mesmos vem do próprio Deus. É uma forma de dizer tudo o que é o Pai e tudo o que é o Filho. Este Jesus é-nos dado e, dando-se, revela “como é Deus”.

Os interlocutores de Jesus in­dignam-se: como é que este homem pode dizer que “des­ceu do céu” quando sabemos que Ele vem da terra? Com efeito, conhecemos o seu pai e a sua mãe... Essas pessoas de­vem aprender, tal como nós, que vir da terra e descer do céu não são contraditórios. O que produz a terra em Génesis 1 é o fruto da palavra que vem de Deus. Todas essas coisas “incarnam” o Verbo, e Cristo reca­pitula-as, conduzindo-as à sua última verdade. Não é Ele a “luz do mundo”, plenitude daquela que foi dada em Génesis 1,3? É por isso que o pão da terra anuncia e prepara o “pão do céu”. De tudo isto nasce a vida; a nossa vida actual faz-se vida eterna, desde que aceitemos oferecê-la.

Quem é Jesus?

Eis a famosa questão da identi­dade. Diante de Jesus e do que Ele faz, somos conduzidos a compreender e a crer, não ape­nas que Ele “vem” de Deus, mas que Ele é presença de Deus. A sua identidade profunda ul­trapassa infinitamente o que se sabe ou o que se crê saber d’Ele. Gerada a partir do “ver”, da visão, a fé vai bem para além do que se constata. No limite, é mesmo possível “crer sem ver” (João 20,29). No fim de contas, é assim que vivemos, nós que cremos a partir do que ouvi­mos, a partir do testemunho dos apóstolos transmitido de geração em geração.

Não pensemos que esta ade­são à pessoa de Cristo, esta caminhada com Ele, esta escolha de ser como Ele, necessitam de um esforço penoso da nos­sa parte. Não somos nós que temos de “fabricar” a nossa fé; “ninguém vem a mim se o Pai, que me enviou, não o atrai” (v. 44). Mas atenção: temos o po­der de ceder a esta atracção ou de a recusar. Cabe a nós pronunciar o “sim” nupcial que nos faz ser um com Cristo; uma só carne. Não esperemos ser possuídos por um poderoso sentimento de crença: temos simplesmente de escolher acreditar, imitar o “faça-se se­gundo a tua palavra” de Maria no dia da Anunciação.

A fé é abandono e aceitação face à atracção de Deus. Esta atracção conduz-nos a Cristo, humanidade de Deus e divin­dade do homem. E Cristo, não esqueçamos, entrega-se nas nossas mãos através de todos os homens: “a mim mesmo o fizestes” (Mateus 25,40)”.

(Marcel Domergue, in Secreta­riado Nacional da Pastoral da Cultura).

Publicado em 2024-08-13

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