«PARTIR E REPARTIR O PÃO DE CADA DIA»

28 de Julho de 2024

“A oração de Jesus parte de um pedido urgente, que muito se assemelha à imploração de um mendigo: «Dá-nos o pão de cada dia!».

Esta oração provém de uma evidência que muitas vezes esquecemos, isto é, de que não somos criaturas autossuficien­tes, e que todos os dias preci­samos de nos alimentar.

As Escrituras mostram-nos que para muita gente o encontro com Jesus realizou-se a partir de um pedido. Jesus não pede invocações apuradas; aliás, toda a existência humana, com os seus problemas mais con­cretos e diários, pode tornar-se oração.

Nos Evangelhos encontramos uma multidão de mendigos que suplicam libertação e sal­vação. Quem pede o pão, a cura; alguns a purificação, ou­tros a vista; ou que uma pessoa querida possa voltar a viver… Jesus nunca passa indiferente junto a estes pedidos e a estas dores.

Por isso, Jesus ensina-nos a pedir ao Pai o pão de cada dia. Ensina-nos a fazê-lo unidos a muitos homens e mulheres para os quais esta oração é um grito – muitas vezes contido dentro – que acompanha a ân­sia de cada dia.

Quantas mães e quantos pais, ainda hoje, vão dormir com o tormento de não terem no dia seguinte pão suficiente para os seus filhos. Imaginemos esta oração recitada não na segu­rança de um cómodo aparta­mento, mas na precariedade de um quarto a que é preciso conformar-se, onde falta o necessário para viver.

As palavras de Jesus assumem uma força nova. A oração cristã começa deste nível. Não é um exercício para ascetas; parte da realidade, do coração e da carne de pessoas que vivem na necessidade, ou que partilham a condição de quem não tem o necessário para viver.

Nem sequer os mais altos mís­ticos cristãos podem prescin­dir da simplicidade deste pedi­do. «Pai, faz com que para nós e para todos, haja hoje o pão necessário.» E «pão» significa também água, saúde, casa, trabalho.

O pão que o cristão pede na oração não é o “meu” (atenção, não é o “meu”), mas o “nosso”. Assim quer Jesus. Ensina-nos a pedi-lo não só para si próprio, mas para toda a fraternidade do mundo. Se não se ora desta maneira, o Pai-nosso deixa de ser uma oração cristã.

Se Deus é Pai nosso, como po­demos apresentar-nos a Ele sem lhe agarrarmos a mão? E se o pão que Ele nos dá o rou­bamos entre nós, como pode­mos dizer-nos seus filhos? Esta oração contém uma atitude de empatia e de solidariedade. Na minha fome sinto a fome das multidões, e então rezarei a Deus até que o seu pedido seja atendido.

Assim Jesus educa a sua co­munidade, a Igreja, a levar a Deus as necessidades de to­dos: «Somos todos teus filhos, ó Pai, tem piedade de nós». Agora far-nos-á bem pensar nas crianças com fome, como as do Iémen, da Síria, do Sudão do Sul, e tantos outros países, onde não há pão. (…)

O pão que pedimos ao Senhor na oração é o mesmo que um dia nos acusará. Reprovar-nos­-á o pouco hábito que temos em parti-lo com quem nos é próximo, a partilhá-lo. Era um pão oferecido para a humani­dade, e em vez disso foi comi­do só por alguns; o amor não pode suportar isto. (…)

Uma vez havia uma grande multidão diante de Jesus; era gente que tinha fome. Jesus perguntou se alguém tinha al­guma coisa, e só se encontrou uma criança disposta a parti­lhar a sua reserva: cinco pães e dois peixes. Jesus multiplicou aquele gesto generoso. Aque­la criança tinha compreendido a lição do Pai-nosso: que o alimento não é propriedade privada (…), mas providência a partilhar, com a graça de Deus.

O verdadeiro milagre realizado por Jesus naquele dia é a parti­lha. Ele próprio, multiplicando aquele pão oferecido, anteci­pou a oferta de si no Pão euca­rístico. Com efeito, só a Euca­ristia é capaz de saciar a fome de infinito e o desejo de Deus que anima cada ser humano, também na procura do pão de cada dia”.

Papa Francisco.

Publicado em 2024-08-13

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