
SEMANA SANTA E GRANDE!
13 de abril de 2025
“O advérbio σήμερον, em grego, que
quer dizer hoje, aparece nos Evangelhos Sinóticos cerca de dezasseis
vezes, sendo seis vezes no Evangelho de Mateus, uma vez no Evangelho de Marcos
e nove vezes no Evangelho de Lucas.
Lucas é o evangelista do hoje do nascimento do
Salvador (2, 11) até ao hoje do Paraíso prometido ao ladrão arrependido (23,
43). O hoje em Lucas é usado com o propósito de trazer ao ápice o tempo
da promessa e, dessa forma, inaugurar o tempo messiânico. Este hoje
pragmatizado por Lucas não se estreita ao período da presença história de
Jesus, mas antes alarga a um tempo permanente que se realiza através da missão
da Igreja na procura incessante de viver hoje a salvação inaugurada por Jesus.
O hoje da salvação é trazido por Jesus aos pecadores, aos cegos, aos coxos e
moribundos, e por isso mesmo, parte da livre e espontânea vontade amorosa de
Deus. Em Zaqueu, por exemplo, é patente o hoje de Jesus que interpela a vida
do publicano e o hoje salvífico que é operado na existência de Zaqueu.
O hoje lucano é o hoje da libertação, da
manifestação do Reino de Deus entre os homens. Destarte, como na cura do
paralítico de Cafarnaum (5,26), todo o povo maravilha-se perante a lídima autoridade
de Jesus que, através da sua Palavra, faz conceder no hoje, não somente a cura
física deste homem, como também a cura espiritual, libertando-o da escravidão
do pecado. Estas atitudes de Jesus revelam-nos o hoje inesperado, a
manifestação da misericórdia que abarca, com gáudio e letícia, o mistério da
existência humana. É este hoje adventício que faz o coxo saltar, os
demónios afugentarem-se, as línguas saltarem, os olhos abrirem, o ladrão se
arrepender e a vida acontecer. Assim sendo, o hoje lucano tem como
função ajudar o ser humano a abrir-se à atualidade da salvação, numa nova
cronologia, sob a égide de Cristo, que transforma o hoje no dia sem ocaso da
sua omnipotência salvadora.
A originalidade e a maestria de Lucas é, talvez, o
equilíbrio que narrativamente é capaz de manter a figura de um Deus que conduz
a história segundo o seu desígnio salvífico. O hoje é o espaço do encontro com
a iniciativa salvífica do Pai e a responsável liberdade do homem. O hoje nos
Sinóticos constitui um convite imperioso para que o homem possa conhecer e
acolher esta novidade salvífica. É o impulso para construir uma estratégia
pragmática que incita no leitor o compromisso responsável, que nasce da
consciência da bondade de Deus e da efemeridade da própria vida.
O hoje de Cristo revela que a salvação
entra no mundo num preciso momento da história e que este acontecimento acabou
por transformar radicalmente a existência humana. Toda a vida e todos os
encontros de Cristo se fundamentam no hoje da salvação. O seu hoje consiste
em salvar o povo dos grilhões da escravidão e a sua vinda marca um ponto
fulcral e indelével na história da salvação. Na conceção de S. Mateus (6, 11) o
hoje de Jesus corresponde ao “pão nosso de cada dia” que traz e mantém a
vida, consumando no hoje o patrocínio misericordioso de Deus.
O tempo é uma categoria puramente humana,
necessária para orientar, ordenar e significar a existência do homem. O Deus
Criador, na verdade, não se define com critérios da temporalidade humana. Ele
existe desde sempre e para sempre. Entretanto, quando a ação de Deus se
manifesta a favor do homem, fá-lo através de uma linguagem que ele possa
compreender. Assim sendo, o Deus bíblico age a favor de um povo que vive na
história. O povo é chamado a viver, no tempo cronológico a que está sujeito,
aquela novidade salvífica que Deus inaugura através da Encarnação do Verbo,
que é o tempo da salvação.
No Novo Testamento, propriamente nos Evangelhos
Sinóticos, o advérbio hoje assume uma novidade radical ao tempo do homem
com o hoje da salvação. A existência histórica de Jesus no hoje do homem, as
suas palavras, os seus encontros, as curas, os exorcismos, as refeições,
tornam-se a paradigmática do hoje eterno do mistério da salvação que Deus
realiza através da Morte e Ressurreição de seu Filho, como bem expressa o
teólogo José Tolentino Mendonça: “O advérbio hoje impõe o tempo presente para
a ação expressa pelo Verbo” (“A Construção de Jesus – A surpresa de um
retrato”, p. 78).
O hoje de Jesus ultrapassa a categoria e
expetativa humana sobre o tempo, porque na sua vida e, sobretudo, no
acontecimento pascal, supera todo e qualquer limite inelutável que é a morte.
O evento pascal, na verdade, diz uma palavra nova e definitiva na história
humana: o hoje é capaz de introduzir-nos no tempo escatológico do Reino
de Deus, onde Cristo anuncia ao homem que Deus é eterno e que nem os grilhões
da morte nem os limites do tempo cronológico possuem a última palavra da vida
humana. Portanto, já no tempo presente começa o hoje do tempo futuro”.
(P. Alexsander Baccarini Pinto,
in Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura).
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