SEMANA SANTA E GRANDE!

13 de abril de 2025

Dois atributos que, em todo o ano litúrgico, estão reservados apenas a uma semana: aquela que se abre com o Domingo de Ramos: Paixão do Senhor. A ru­brica do missal que a introduz apresenta-nos desde logo um verbo central para compreender o sentido dos ritos que a carac­terizam: “Ecclesia recolit”. A Igre­ja «faz memória» dos últimos atos da vida de Jesus, daqueles dias, lugares e ações narradas nos Evangelhos.

Mas na liturgia não estamos no teatro, não é a simples repre­sentação de um guião redigido por uma leitura anedótica da Escritura. É sempre celebração daquele mistério único de fé pascal no qual: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, procla­mamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus».

As primeiras palavras da liturgia da Semana Santa são de adver­tência. São um convite a uma participação ativa e, sobretudo, consciente. Isto porque, nos dias grandes e santos, a Igreja é chamada não só a “fazer”, mas a viver, com unidade dos lábios e do coração, aqueles ritos únicos.

Comemorar a entrada do Se­nhor em Jerusalém tem teste­munhos muito antigos. Desde há séculos que a Igreja vive este momento como um “prelúdio” à Páscoa, respondendo a um con­vite que, na celebração, é con­fiado ao diácono: «Imitemos, irmãos caríssimos, a multidão que aclamava a Jesus na cidade santa de Jerusalém, e caminhe­mos em paz».

Na Idade Média, este convite a “imitar” era sentido com força singular e abria a leituras que não ficavam pela simples re­presentação do Evangelho que o ministro tinha proclamado (Mateus 21, 1-11). A Igreja reco­lhia-se num lugar diferente do habitual, a celebração começa­va fora do edifício sagrado e era lida como imagem de uma Igre­ja “em saída”, melhor, duplamen­te em saída: com o corpo e com o espírito.

Quando o missal, hoje, chama prelúdio, para eles era “prepa­ração” para celebrar a Páscoa através de uma profunda medi­tação daquela Escritura. A saída é a condição para encontrar o Senhor e ecoava o convite da Carta aos Hebreus: «Saiamos, então, ao seu encontro fora do acampamento, suportando a sua humilhação, porque não te­mos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura» (13, 13-14).

O Senhor devia ser acolhido com os frutos de todo o cami­nho quaresmal, com flores de virtude e palmas de vitória» so­bre o pecado, dizia Guilherme de Auxerre. Este teólogo para­fraseava a antífona que antiga­mente seguia a proclamação do Evangelho da entrada do Se­nhor em Jerusalém: “Occurrunt turbae” (As multidões vão ao en­contro do Redentor com flores e palmas, ao vencedor triunfante prestam digna homenagem. As gentes aclamam-no Filho de Deus e no nome de Cristo ressoa no ar o canto: «Hossana» .

A Paixão já tem o perfume de vitória, e o que também hoje somos convidados a viver na ce­lebração, ou seja, a unidade do mistério pascal, era entrevisto num pequeno detalhe: o nú­mero oito. Trata-se da cor sono­ra daquele canto que já fala da vitória de Cristo ao oitavo dia, aquele que não conhece ocaso. Uma vitória «em si e nos seus membros, pela qual chegamos [também nós] à vitória da res­surreição», comentava Guilher­me de Auxerre.

Neste domingo, a Igreja canta hinos ao seu «Rei bom e clemen­te que ama tudo o que é bom». O canto quer já orientar essa escuta e toda a semana que se está para viver: «Seis dias antes da Páscoa, o Senhor entrou em Jerusalém e as crianças vieram ao seu encontro, com ramos de palmeira, cantando com alegria: “Hossana nas alturas. Bendito sejais, Senhor, que vindes tra­zer ao mundo a misericórdia de Deus”». A Igreja é convidada a imitar as crianças precisamente na essência dos seus hinos de alegria. É a proclamação da res­surreição, acontecimento que não podemos calar em cada ato celebrativo.

Comemorar esta entrada do Se­nhor em Jerusalém é mais do que preparar-se para a Páscoa: é vivê-la! Imitar os “pueri haebreo­rum” (as crianças dos judeus) daquele dia é colher o convite a sair, a atravessar as nossas ci­dades com passos ritmados por cantos de alegria e capazes de meditar «os ensinamentos da sua paixão, para merecermos tomar parte na glória da sua ressurreição» (oração coleta da missa do Domingo de Ramos)” .

(Claudio Campesato, in Secre­tariado Nacional da Pastoral da Cultura)..

Publicado em 2025-04-15

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