
«O TEMPO DA SALVAÇÃO É HOJE»
26 de janeiro de 2025
Dois atributos que, em todo o ano
litúrgico, estão reservados apenas a uma semana: aquela que se abre com o
Domingo de Ramos: Paixão do Senhor. A rubrica do missal que a introduz
apresenta-nos desde logo um verbo central para compreender o sentido dos ritos
que a caracterizam: “Ecclesia recolit”. A Igreja «faz memória» dos últimos
atos da vida de Jesus, daqueles dias, lugares e ações narradas nos Evangelhos.
Mas na liturgia não estamos no teatro,
não é a simples representação de um guião redigido por uma leitura anedótica
da Escritura. É sempre celebração daquele mistério único de fé pascal no qual:
«Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde
Senhor Jesus».
As primeiras palavras da liturgia da
Semana Santa são de advertência. São um convite a uma participação ativa e,
sobretudo, consciente. Isto porque, nos dias grandes e santos, a Igreja é
chamada não só a “fazer”, mas a viver, com unidade dos lábios e do coração,
aqueles ritos únicos.
Comemorar a entrada do Senhor em
Jerusalém tem testemunhos muito antigos. Desde há séculos que a Igreja vive
este momento como um “prelúdio” à Páscoa, respondendo a um convite que, na
celebração, é confiado ao diácono: «Imitemos, irmãos caríssimos, a multidão
que aclamava a Jesus na cidade santa de Jerusalém, e caminhemos em paz».
Na Idade Média, este convite a “imitar”
era sentido com força singular e abria a leituras que não ficavam pela simples
representação do Evangelho que o ministro tinha proclamado (Mateus 21, 1-11).
A Igreja recolhia-se num lugar diferente do habitual, a celebração começava
fora do edifício sagrado e era lida como imagem de uma Igreja “em saída”,
melhor, duplamente em saída: com o corpo e com o espírito.
Quando o missal, hoje, chama prelúdio,
para eles era “preparação” para celebrar a Páscoa através de uma profunda meditação
daquela Escritura. A saída é a condição para encontrar o Senhor e ecoava o
convite da Carta aos Hebreus: «Saiamos, então, ao seu encontro fora do
acampamento, suportando a sua humilhação, porque não temos aqui cidade
permanente, mas procuramos a futura» (13, 13-14).
O Senhor devia ser acolhido com os frutos
de todo o caminho quaresmal, com flores de virtude e palmas de vitória» sobre
o pecado, dizia Guilherme de Auxerre. Este teólogo parafraseava a antífona que
antigamente seguia a proclamação do Evangelho da entrada do Senhor em
Jerusalém: “Occurrunt turbae” (As multidões vão ao encontro do Redentor com
flores e palmas, ao vencedor triunfante prestam digna homenagem. As gentes
aclamam-no Filho de Deus e no nome de Cristo ressoa no ar o canto: «Hossana» .
A Paixão já tem o perfume de vitória, e o
que também hoje somos convidados a viver na celebração, ou seja, a unidade do
mistério pascal, era entrevisto num pequeno detalhe: o número oito. Trata-se
da cor sonora daquele canto que já fala da vitória de Cristo ao oitavo dia,
aquele que não conhece ocaso. Uma vitória «em si e nos seus membros, pela qual
chegamos [também nós] à vitória da ressurreição», comentava Guilherme de
Auxerre.
Neste domingo, a Igreja canta hinos ao
seu «Rei bom e clemente que ama tudo o que é bom». O canto quer já orientar
essa escuta e toda a semana que se está para viver: «Seis dias antes da Páscoa,
o Senhor entrou em Jerusalém e as crianças vieram ao seu encontro, com ramos de
palmeira, cantando com alegria: “Hossana nas alturas. Bendito sejais, Senhor,
que vindes trazer ao mundo a misericórdia de Deus”». A Igreja é convidada a
imitar as crianças precisamente na essência dos seus hinos de alegria. É a
proclamação da ressurreição, acontecimento que não podemos calar em cada ato
celebrativo.
Comemorar esta entrada do Senhor em
Jerusalém é mais do que preparar-se para a Páscoa: é vivê-la! Imitar os “pueri
haebreorum” (as crianças dos judeus) daquele dia é colher o convite a sair, a
atravessar as nossas cidades com passos ritmados por cantos de alegria e
capazes de meditar «os ensinamentos da sua paixão, para merecermos tomar parte
na glória da sua ressurreição» (oração coleta da missa do Domingo de Ramos)” .
(Claudio Campesato, in Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)..
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