“O Senhor ressuscitou verdadeiramente!” Eis a proclamação constantemente testemunhada pela Igreja, ainda com maior ênfase no Tempo Pascal. Em Ano Santo da Misericórdia, nós, os discípulos de Cristo, somos convidados a contemplar com olhar renovado as marcas do Amor de Deus para sempre presentes no Ressuscitado: as Suas mãos, os Seus pés e o Seu coração rompidos pelos cravos da Cruz e rasgado pela lança. Amou-nos até ao extremo da dádiva da Sua vida!
Com a Sua morte, o Seu amor foi derramado nos nossos corações e aí deve produzir frutos visíveis. Mas, como sabemos, o Amor é tão forte como a vida e a sua criatividade é inesgotável, porém a autenticidade do Amor torna-o impotente perante o nosso “Não”. O amor nunca impõe, mas propõe; nunca viola nem oprime ou obriga, mas sugere, convida, convoca. Importa, por isso, abrir de par em par as portas da nossa vida à força renovadora do Amor Misericordioso e continuarmos a sua paixão amorosa para que o não-amor desapareça no mundo.
São muitos os sinais desta ausência do amor. Muitos são visíveis e enchem as páginas dos jornais. Outros são invisíveis, mas nem por isso magoam menos. Recordo as vítimas de violência doméstica, bem como o drama dos refugiados fugidos ao horror da guerra e que não conseguem encontrar guarida. Preocupa-me a situação dos sem abrigo e o engano em que caíram os drogados. Vejo as doenças físicas e mentais. Também não ignoro os dramas silenciosos de muitas solidões, da amarga vida dos pobres envergonhados, de muitas famílias que choram por não poderem colocar o pão na mesa para os filhos.
Para que a Ressurreição acontecesse, a pedra que ocultava Cristo rolou e permitiu que a vida acontecesse e se tornasse alegre notícia. Urge, hoje, retirar muitas pedras que escondem existências pouco humanas. A Páscoa é esta oferta da vida para que, sozinhos ou em voluntariado organizado, pelas Instituições da Igreja ou com a colaboração do Estado, acordemos da inércia e afastemos essas pedras que oprimem a dignidade.
Actualmente grita-se muito e formulam-se prognósticos minuciosos. Precisamos de menos palavras e de mais obras que renovem a sociedade. Basta-nos uma frase para que a Páscoa aconteça. “Assim como Eu fiz fazei vós também” (Jo 13, 15). Cessem as palavras e acolhamos a missão de dar ao mundo o rosto da verdadeira fraternidade. Se a Páscoa aconteceu com a Ressurreição de Cristo, anunciemo-la, agora, com obras de misericórdia, justiça, concórdia, consolação e oferta do nosso tempo. Isto mostrará ao mundo o que é a Páscoa.
É urgente construir um mundo mais justo e solidário. Desenterremos as nossas capacidades e talentos e avivemos o espírito de missão na Igreja. Que os nossos aleluias sejam compromisso no anúncio de caminhos novos para uma sociedade mais humana e cristã.
Braga, 27 de Março de 2016
+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz