
Reabilitação da Igreja Matriz
Barcelos vê aprovada candidatura ao NORTE 2030 para reabilitação da Igreja Matriz e do Paço dos Duques
Começo por repetir o
convite a todos aqueles que nos seguem via web: que significa para nós, hoje,
estas palavras do Senhor da Cruz, com que termina o texto de S. João acabado de
ler: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância»? O que será vida em
abundância no actual contexto social e cultural? Terá ainda sentido falar deste
desafio que acompanha a história da Humanidade nos últimos 20 séculos? Terá
sentido uma cultura amputada de um dos seus referenciais mais representativos,
precisamente Jesus, de onde veio o cristianismo que, queiramos ou não, modelou
um modo de ser e de estar na maior parte do universo?
Perguntemo-lo
a Pedro e ao próprio Jesus:
1. Pedro é aquele que
privou com Jesus, mas, na hora mais difícil, negou-O, traiu-o. Pedro é também o
homem que, humilde, chora de arrependimento. Pedro é o homem que faz
directamente a experiência do amor do Mestre que, não só não deixa de acreditar
nele, como lhe confia o primeiro lugar no Colégio Apostólico. No texto de
hoje vemo-lo cheio de coragem a proclamar, alto e bom som, a verdade que fere
os ouvintes: «vós matastes o Justo mas Deus ressuscitou-O». E, sem negar os
sinais de fragilidade humana, a sua paixão por Jesus vai levá-lo até dar a vida
por Ele. Porque recebeu a Vida do Mestre, a tal Vida em abundância, respondeu
de igual modo, morrendo por Ele. Pedro provoca o auditório para uma resposta
concreta, que surge aberta ao futuro, desejosa de corrigir o passado: «Que
havemos de fazer?», perguntam-lhe. E a resposta é a mesma que há séculos a
Igreja repete, anunciando um Deus cuja misericórdia é sempre libertação do
pecado, que tolhe e encrava a vida de cada pessoa ou sociedade, e convite a
seguir em frente: convertei-vos e peça cada um o Baptismo», responde Pedro. «Vida
em abundância» para Pedro é então aderir a Jesus, deixar-se possuir por Jesus,
centrar toda a sua vida nele, seguir nos passos dele.
2. Perguntemos agora ao
próprio Jesus o que é a «vida em abundância». S. João retoma o tema do
Pastor e das ovelhas, já conhecido do Antigo Testamento. Com efeito, já
Ezequiel, que viveu exilado na Babilónia e o fim da realeza de Israel.
Considerou os antigos reis de Israel como maus pastores, maus condutores do
povo. E fala do Senhor como verdadeiro pastor, atento a cada uma das suas
ovelhas. Na pastorícia do tempo, os pastores juntavam os seus rebanhos
para serem guardados por um pastor durante a noite. E cada um vinha, no dia
seguinte, buscar o seu rebanho. As ovelhas, todas juntas no descanso da noite,
logo seguem cada uma o seu pastor, que reconhece pela voz. A força da parábola
é clara: Jesus é o Pastor próximo, dedicado, cuidadoso dos melhores pastos e
reconhecido pelas suas ovelhas. Mas Ele é também a porta do aprisco. Pela porta
se entra e se sai. Entra-se para o descanso em segurança; sai-se para buscar o
alimento. Nós, os cristãos, definidos como os seguidores de Jesus,
passamos sempre por Ele, que é a porta e seguimos atrás dele, em busca do que é
o melhor alimento. É dele e com Ele que aprendemos, no contexto tão
diversificado da nossa vida ao longo da existência terrena, a acreditar, a
esperar, a amar. Ele afirma-se a Vida em abundância e convida-nos a seguir os
seus passos: mesmo que eles nos levem ao Calvário, sabemos de antemão, o que
vem a seguir: a ressurreição. Este saber de antemão o que nos espera justifica
todo o esforço que nos é pedido de uma vida digna, elevada e comprometida no
agir responsável. Esta «sabedoria» de viver a partir de Jesus marca a diferença
entre uma vida crente, cristã, e outra vida não crente. Esta mais valia
evidente, se bem entendida, deveria ser capaz de atrair tantos que se dizem não
crentes. A tal «vida em abundância» exige de todos que não nos contentemos com
os mínimos. O tempo de pandemia que vivemos, inclusive, põe a nu os nossos
estilos de vida, que se contentam com muito pouco, quase só o que se refere ao
biológico ou material. Somos mais, muito mais. Somos destinados a níveis bem
superiores, como «imagem de Deus» que somos. Pobre cultura aquela que não
desperta ideais elevados mas que nos contenta com, o que é cá de
baixo. Compreendamos até aqueles que, dizendo-se sem fé, admiram e invejam
aqueles que têm fé. E não é para menos.
3. Uma experiência pessoal
marca a minha vida: um grupo de amigos quis convidar-me para um jantar. Foi em
Paris. No grupo estava alguém que se dizia ateu. Curioso, logo aceitei a
sugestão de um amigo comum. Bem cedo me apercebi do homem inquieto, numa
procura honesta e profundo, de um sentido para a vida. Facilmente a conversa se
desviava para o tema religioso nos encontros seguintes. E eu confirmava: de
facto, Deus seduz, atrai, provoca. Mas facilmente se conjugam demasiados
obstáculos, na chamada cultura laicista predominante, para que os inquietos não
possam manifestar a sua inquietação profunda. Desses encontros conservo esta
ideia: vale a pena dialogar com gente honesta. Aprende-se muito. Evolui-se
imenso. Nada fica como antes. Nem para mim nem para ele. E dou graças a Deus
por saber hoje o que é dialogar com um ateu confesso mas honesto e sério nas suas
procuras interiores. Ao contrário, é desolador «perder tempo» com aqueles que,
falando do seu passado religioso, não conseguem evitar traumas não
ultrapassados e se mostram cristalizados numa pretensa mas falsa segurança,
ufanando-se de uma descrença que, afinal, não lhes traz qualquer segurança.
4. Olhemos agora para nós,
hoje. Que «vida em abundância» encontramos? Ouvimos sempre falar em
«qualidade de vida». Parece-me que mais como desejo do que realidade. Desejamos
voltar à normalidade. Ouso dizer que a tal «normalidade» do antes da pandemia,
eu não a desejo. Seria sinal de nada termos aprendido ou de nos bastar voltar
atrás, ao que já experimentamos. Não, eu prefiro seguir em frente, na esperança
de que a novidade, que ainda não conheço, será melhor. Porque crente é este o
meu desejo, porque alicerçado na confiança de que Deus me atrai sempre para
algo de novo, algo mais substancial do que a banalidade em que a minha vida
tantas vezes se afunda. Não temos que voltar a essa «normalidade»
conhecida em que a «qualidade de vida» se reduz, ou a saúde pública, se reduz
ao bem estar físico. O todo da pessoa inclui a dimensão espiritual, a parente
pobre da «economia que mata» (Papa Francisco). Espera-se mais desta dolorosa
experiência colectiva, marcada, por exemplo, pela solidão afectiva no modo como
a morte está a acontecer ou no processo do luto de familiares, reduzido ou
mesmo impedido. Marcada também por esta ausência da comunidade com quem se reza
e com quem se exprimem alegrias e dores. Marcada por esta pergunta inquietante
e insistente: quando abrem as igrejas ou quando é que podemos ir à Missa…
«Faz-me tanta falta…», dizia-me ainda ontem alguém que se cruzava comigo. Há
também necessidades básicas de ordem espiritual.
5. A terminar, lembro o
convite a celebrar Maria em casa no mês de Maio, com a assinatura do Papa
Francisco e do nosso Arcebispo (que sugere um terço de flores em cada casa) e
cito as palavras de D. Antonino Dias, bispo de Portalegre/Castelo Branco, bem
ajustadas à Festa em honra do Senhor da Cruz, em Dia da Mãe. Diz ele:
Que as crianças nunca fiquem sem resposta na sua
curiosidade de saber e aprendam desde pequeninas que todos somos irmãos e
devemos dar as mãos em amor e verdade. Cristo morreu em defesa da Verdade. Em
honra das mães que sabem falar de Jesus aos seus filhos e dos filhos que gostam
de saber e fazem perguntas, recordo o lindo poema de João de Deus, o grande
pedagogo e poeta autor da Cartilha Maternal:
CRUCIFIXO
“Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela
cruz?”
- Aquele, filho,
é Jesus…
É a santa imagem
d’Ele!
“E quem é Jesus?” – É Deus!
“E quem é Deus?”
– Quem nos cria,
Quem nos dá a
luz do dia
E fez a terra e
o céu;
E veio ensinar à gente
Que todos somos
irmãos
E devemos dar as
mãos
Uns aos outros
irmamente:
Todo amor, todo bondade!
“E morreu?” – Para mostrar
Que a gente,
pela Verdade
Se deve deixar
matar”.
O Prior de
Barcelos - P. Abílio Cardoso
Foto gentilmente
cedida por Luís Carvalhido

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