Não vivíamos nós como senhores do mundo criado?

Não conseguimos vencer distâncias, chegando ao espaço

   ou ver em directo o que se passa no cabo do mundo?

Não dispensámos nós o esforço de construção do humano

   para nos subjugarmos ao determinismo técnico e científico

   que nos dispensa e nos exclui?

Não temos nós programas elaborados,

   metas estabelecidas e resultados previstos?

Não calculámos mesmo a percentagem de falhas

   e orçamentámos os imprevistos?

Porquê então a pandemia?

Porque não a conseguimos prever e evitar?

Porque não a calculámos ou cercámos?

Porque não a conseguimos suster?

Afinal, vivíamos num mundo de deuses que iludem

   e nos esmagam sem nos darmos conta…

Dispensávamos o grito de todos os povos

   ao longo da História: Vem, Senhor Jesus!

E percebemos que ele é agora mais premente que nunca.

Porque marca a Esperança que nenhum povo dispensa,

   seja a de uma vacina que permita o regresso ao «normal»,

   seja a dignificação do morrer humanizado pela presença

   de um cuidador atento ou de uma mão que acaricia.

Aprendemos com a História a fazer perguntas, Senhor,

   interpretando o Teu silêncio, como a melhor resposta.

Porque encarnaste, humanizando-te e divinizando-nos.

Porque continuas Senhor da tua criação,

   que tantas vezes estragamos,

   e do meu ser, atraído para o teu Ser de amor e de paz.

Ajuda-nos a ser como Isaías, no seu olhar o futuro,

   como João Baptista na inteireza de carácter,

   como Maria, de coração aberto para a missão.

E, assim, o nosso Natal, diferente porque em pandemia,

   tornar-se-á memorável por nos ter revelado que

   sempres estiveste connosco e não Te reconhecíamos

   e a pandemia se tornou oportunidade para o essencial:

   TU, DEUS MENINO,

Boas Festas

                                     P. Abílio Cardoso, Prior de Barcelos

                                     P. Abílio Cardoso, Prior de Barcelos