UM OLHAR OUTRO

19 de Janeiro de 2020

Este «olhar» vai incidir sobre a paróquia de Ocua, a 552ª da arquidiocese de Braga, a partir de uma parceria estabelecida entre Braga e Pemba. Porque acompanhei durante dois meses a entrada de uma nova equipa missionária e assisti, partilhando com eles, aos primeiros passos de uma entrega generosa, à partida projectada para um ano. O Rui e a Susana, o casal que decidiu integrar o projecto por mais um ano, facilitaram a «entrada» dos novos, o P. Daniel e a Andreia. Também eu beneficiei, e muito, da sua experiência e conhecimento da realidade social, humana e pastoral. 

Ainda antes de chegarmos à Paróquia - era sábado, 26 de Outubro - entrámos cedo no Chiúre, a cerca de 30 Km da Paróquia, uma vila que funciona como distrito e aonde nos abastecemos dos bens de primeira necessidade. Era o primeiro encontro das equipas missionárias da região. Éramos mais de duas dezenas, de várias nacionalidades, com predomínio dos brasileiros, entre padres, religiosas e leigos. Presidiu um dos vigários da diocese. Passámos toda a manhã em programação de várias actividades comuns. Destaco, deste encontro, como primeira impressão, o ambiente fraterno entre todos e a partilha das mesmas preocupações. Percebi mais tarde que estes encontros, de nível regional ou simplesmente de zona, ou por comissões, são frequentes, o que permite que em pouco tempo todos se tornem familiarizados uns com os outros. E tal, percebi também, é fundamental no contexto da missão. 

A primeira celebração na Paróquia permitiu identificar alguns traços, que viria a confirmar com o tempo:

a) O ambiente de festa permanente em cada celebração. Canta-se, e até se dança, mas nada destoa do ambiente sagrado.

b) Os diversos ministérios ou serviços na comunidade permitem ao presidente da celebração o «descanso» de quem tem de fazer apenas aquilo que lhe compete: proclamar o evangelho, explicá-lo (a homilia é sempre traduzida por um «ancião»), consagrar o Pão e distribuí-lo. 

c) Nunca há pressa: normalmente a missa começa às 8.00, mas o sino convocou para o Terço, animado este, às 7.30. Numa daquelas a que presidi, verifiquei que terminei às 9.45, cedo para o costume deles. Mas, os últimos 15 minutos são para os «avisos»: os líderes da comunidade informam, exortam, dão contas e destacam a presença de algumas pessoas que ou vêm pela primeira vez e se apresentam, ou estão de passagem na aldeia e vêm à Eucaristia, ou até se afastaram da comunidade por alguma razão e decidiram voltar (num dos casos, uma dizia que, abandonada pelo marido muçulmano, nunca pôde praticar a sua religião mas sempre rezava… e sentia-se agora feliz, no seu regresso). 

d) Predominam, na assembleia, os homens. Poucas são as mulheres que intervêm. Há mesmo uma orientação dada aos missionários para forçarem o papel das mulheres na actividade e até nas decisões da comunidade, pois que, culturalmente, «os homens é que mandam». Se os homens se fazem ouvir mais na celebração, todos do mesmo lado, as mulheres enchem mais o espaço: elas valem por duas ou três, com os filhos agarrados aos peitos (literalmente) e outros, mais crescidos ao lado, se não se aventuram, por enquanto, a rodear o altar. É maravilhoso sentir-se rodeado – às vezes com dificuldade de nos movermos do altar para o ambão – por tantas crianças que, como os adultos, cantam e batem palmas, «sentem» a música dando ritmo ao próprio corpo. No momento da paz, todas querem apertar a mão do padre (duas ou três ao mesmo tempo).

A visita às comunidades (são 96 na Paróquia) é sempre muito festiva. Quando a Equipa agenda o dia, sabe-se que os líderes da comunidade aproveitam para se mostrarem dignos do cargo que ocupam e do respeito que lhes dedicam. A manhã da visita – chega-se normalmente às 8.00 e a celebração pode durar mais de três horas – é toda dedicada ao encontro/festa da comunidade. Começa-se por atender de confissão os que desejarem. Celebra-se a Eucaristia, cantada e dançada por um grupo ensaiado, com muito sentido do sagrado. Segue-se uma reunião de todos os líderes da Zona, das comunidades, dos ministérios ou serviços da Comunidade com o pároco e a equipa. E termina-se com um almoço, simples e ao jeito deles, normalmente xima ou arroz com frango. Além destas, há as mais importantes, chamadas visitas sacramentais. Depois de um catecumenado ou preparação do Batismo, que dura mais de três anos, todos aguardam que a Equipa agende a celebração sacramental. Também há uma receção especial, com cânticos de versos feitos para a ocasião. Seguem-se as confissões: o líder avisa que «primeiro os que se vão casar e depois os outros». A celebração com batizados, que podem ser 70, 200 ou 300, depois os casamentos e, na altura própria, a comunhão pela primeira vez dos recém-batizados. O Crisma está reservado para a visita pastoral do bispo, com preparação própria. Segue-se a reunião dos líderes e servidores das comunidades e o almoço para a Equipa. Às vezes eles estão organizados para comerem juntos, pois que as distâncias são mesmo grandes e é preciso voltar a pé ou de bicicleta… (o toyota de caixa aberta não dá para todos…). 

Terei de voltar de novo ao assunto na próxima semana. 

O Prior - P. Abílio Cardoso

Publicado em 2020-02-12

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